Hugo Chávez preocupa Bush

São Paulo (AE) – O embaixador americano no Brasil, John J. Danilovich, que está deixando o País após pouco mais de um ano no cargo, revela detalhes dos temas que o presidente dos EUA, George W. Bush, irá abordar em sua visita ao Brasil neste mês.

Qual é a agenda do presidente George W. Bush para sua visita ao Brasil?

O presidente Lula e o presidente Bush tiveram uma conversa muito boa e longa ontem (segunda-feira) por telefone. Os dois têm uma relação e canais de comunicação muito bons. Eles obviamente se encontrarão em Mar del Plata na sexta e no sábado antes de Bush viajar para Brasília. No domingo, o presidente Bush terá várias reuniões. Ele se encontrará com os funcionários da embaixada, com líderes brasileiros e depois irá à Granja do Torto para se reunir com o presidente Lula. Os dois discutirão uma ampla gama de assuntos, os focos principais serão comércio e democracia. Em relação ao comércio, os EUA querem levar adiante o projeto da Alca. A ênfase do momento, no entanto, são as negociações da OMC em Hong Kong em dezembro. Todas as discussões preliminares estão sendo realizadas agora. Há algumas semanas os EUA apresentaram um programa muito forte para a redução dos subsídios americanos. Esta foi a proposta mais forte que já fizemos no âmbito internacional e estamos encorajando os países europeus e o Japão a fazer o mesmo. Os dois presidentes também discutirão a democracia no hemisfério ocidental. O Brasil têm sido extremamente eficaz, instrumental, positivo e construtivo em relação à situação na Bolívia. Meses atrás, a chancelaria e o Planalto brasileiro tiveram um papel importante ao encorajar os bolivianos a resolver seus problemas de uma maneira pacífica, politicamente harmônica e economicamente satisfatória. Portanto, em linhas gerais, estes serão os dois focos das conversas entre Lula e Bush.

Quão preocupados estão os EUA em relação ao crescimento dos movimentos de esquerda mais radicais na América Latina?

O Brasil tem um papel destacado não apenas no hemisfério ocidental, mas também no mundo. Claramente, o Brasil é o motor da América do Sul, tanto em relação à sua economia quanto em relação ao tamanho de sua população e pelo fato de fazer fronteira com a maioria dos países. Portanto os EUA reconhecem esse papel. Nosso país foi o primeiro a reconhecer a independência do Brasil, foi o primeiro a estabelecer a embaixada em Brasília. O Brasil é importante não apenas para assuntos comerciais mas pelo seu papel político. O País é a maior democracia da América do Sul. Portanto vemos o Brasil como estabilizador e parceiro influente nas Américas. Com a exceção de Cuba temos 34 países que são democráticos. Isto é uma melhora significativa em relação ao cenário há 25 anos. É sempre importante que a democracia seja mantida, incentivada. Mesmo nos EUA a democracia foi um processo de revolução. É importante que as instituições legislativas, políticas e judiciais permaneçam fortes e vibrantes. Não diria que temos medo que a democracia está sendo ameaçada pela esquerda na América do Sul, mas há algumas preocupações de que as instituições políticas na Venezuela estão sendo colocadas em perigo pelo presidente (Hugo) Chávez e recente medidas que ele adotou que destroem esses importantes pilares da democracia.

Há preocupações sobre a disseminação do "chavinismo" na América do Sul. Há algum prova de que os petrodólares estão sendo enviados para a Bolívia?

Acho que é um exagero acreditar que Chávez representa um movimento político, pois seria impossível definir o que é esse movimento. Ele não tem uma filosofia política, não tem qualquer tipo de coerência, exceto o poder dos petrodólares por trás dele. Há preocupações de que grupos de esquerda estão sendo financiados pela Venezuela, inclusive na Bolívia, e isso é um assunto importante para o Brasil. O país representa 15% do PIB da Bolívia. As empresas brasileiras e o governo brasileiro têm bilhões em investimentos no país. Instabilidades em nossas fronteiras criam instabilidades e dificuldades econômicas e ninguém quer isso.

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