Governo manobra para evitar CPI do Mensalão

Arquivo / O Estado

Severino Cavalcanti não
conseguiu quórum à tarde.

Brasília – O Palácio do Planalto interferiu novamente para tentar aprovar a criação de uma CPI da Compra de Votos exclusivamente na Câmara dos Deputados, antes que o Congresso Nacional instale uma CPI Mista do Mensalão – formada por deputados e senadores. Mais uma vez, a manobra teve o toque pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dois projetos de lei enviados pelo governo com pedido de urgência estavam trancando a pauta de votações. A socilitação de urgência foi retirada ontem por duas mensagens assinadas por Lula e remetidas pela Casa Civil.

Ainda assim, o governo deve ter dificuldades para fazer sua tática funcionar. Uma medida provisória para liberação de recursos para a região Sul ainda tranca a pauta e o governo não parece disposto a usar a mesma estratégia da semana passada. Na última quinta-feira, o Planalto reenviou uma MP que trancava a pauta, com pequenas modificações, e publicou uma edição extra do Diário Oficial para editá-la e retirá-la da pauta do plenário.

Apesar da estratégia que envolveu o presidente ter sido idéia de alguns parlamentares governistas, parte da bancada reclamava muito ontem da retirada de urgência. O sentimento era de que o presidente estava sendo envolvido, mais uma vez, sem qualquer garantia de que a tática fosse dar certo.

Ontem, a sessão da tarde da Câmara, convocada pelo presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), para levar adiante a estratégia do governo, foi cancelada por falta de quórum. Outra sessão foi aberta no início da noite mas até às 19h30 a votação ainda não tinha sequer começado.

Um dos projetos que tiveram a urgência retirada criava o programa de proteção a testemunhas para crianças e adolescentes. O outro, uma subvenção para farmácias e tenta reduzir o custo de medicamentos. Na semana passada, o governo já havia retirado a urgência de três de seus projetos com o mesmo objetivo de destrancar a pauta e aprovar a CPI da Compra de Votos. Um deles, o projeto de gestão especial de florestas, visto pelo Ministério do Meio Ambiente como o principal meio de controlar o desmatamento na Amazônia.

O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo, chegou a fazer um discurso defendendo a votação do projeto de florestas, do qual foi relator. Mas, apesar do discurso, Beto defende a instalação da CPI apenas na Câmara. ?Eu me recuso a aceitar que a Câmara não possa fazer uma investigação honesta e precise de senadores para isso?, disse.

O Planalto quer ver a CPI da Câmara instalada porque acredita ser mais fácil controlá-la. Apesar de incluir nas investigações o ?mensalão?, a CPI governista tem como alvo também a suposta compra de votos para aprovação da emenda que permitiu a reeleição, em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. A oposição acusa a bancada governista de tentar fazer chantagem e querer controlar as investigações. O grupo, que uniu além dos tradicionais adversários PFL e PSDB, o PDT, PPS e o PV, quer a instalação da CPI Mista do Senado e da Câmara, que já tem assinaturas suficientes e deve ser criada hoje, durante uma sessão do Congresso.

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