Governo Lula até agora é tucano

Brasília

– Os parlamentares do PT não se revezam mais na tribuna do Congresso chamando o governo de neoliberal quando é anunciado o aumento da taxa de juros ou da meta de superávit primário. Nem protestam mais contra as limitações dos programas sociais como faziam no governo anterior. Passados dois meses da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as mudanças são pequenas e pouco perceptíveis. Na área econômica, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, segue, a todo vapor, a política de elevação da taxa de juros, que aumentaram duas vezes, chegando a 26,5%, e de aumento da meta de superávit primário, que foi puxada de 3,75% do PIB para 4,25%.

Tem assustado o próprio partido, mas arrancado elogios de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Na área social, entretanto, os projetos e programas ainda estão no forno. Alguns ministros, nomeados como estrelas da área, como Benedita da Silva, da Assistência e Promoção Social, parecem ter desaparecido da cena política. A rede de proteção social criada no governo anterior foi mantida e a cruzada deflagrada por Lula, o Fome Zero, não passou ainda de um projeto-piloto.

“Vemos a mudança quando Lula procura a parceria com os outros poderes e a sociedade e trata os problemas do país com transparência. Na área administrativa, temos que reconhecer que a herança de Fernando Henrique está amarrando o governo”, diz o líder do PT no Senado, Tião Viana (AC).

As dificuldades econômicas obrigaram o governo a contingenciar R$ 14 bilhões do Orçamento deste ano. Os ministros ainda estão decidindo o que vão tocar com os recursos disponíveis, mesmo na área social, que teve cortes menores. Os petistas, no Executivo ou no Congresso, admitem que o governo ainda não deslanchou. Mas dizem que isso faz parte do processo de transição. A oposição aproveita e insiste no discurso de que o governo Lula está engessado e patinando.

“As únicas políticas sociais do governo Lula são as nossas. O Fome Zero não tem uma formatação clara. O que temos é uma paralisia no governo. A gestão não tem clareza. Uns não sabem o que querem e outros não sabem como fazer”, diz o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA).

“Em nenhum governo há grandes mudanças no primeiro ano, elas vêm no segundo ano. Somos herdeiros de métodos e decisões do governo anterior, estamos fazendo uma transição para o novo”, rebate Tião Viana.

As pastas que tocam os principais programas sociais são Educação, Saúde e Reforma Agrária. Na Saúde e na Educação a principal marca tem sido a da continuidade e isso parece não embaraçar os atuais ministros. Já na Reforma Agrária, as mudanças devem levar a uma ruptura com o modelo anterior. O ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza (PSDB) diz que é cedo para avaliar o governo Lula, mas está satisfeito com a manutenção de seus principais programas. O tucano diz que respeita o ministro Cristovam Buarque e deseja que ele resolva a questão do ensino superior.

Voltar ao topo