Governo do PT não agrada nem a Lula

A sensação de que algo mais poderia ser feito aflige petistas históricos, entre os quais ministros e até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mistura de incômodo, frustração e esperança de que o governo petista finalmente deslanche pode ser vista no resultado da enquete feita entre fundadores do PT. Dos 38 que responderam aos questionários, só 9 (24%) disseram estar plenamente satisfeitos com os dois primeiros anos do governo Lula.

São Paulo – Dezenove entrevistados (50%) – entre eles, o próprio Lula – disseram que suas expectativas foram correspondidas em parte e dez (26%) estão totalmente frustrados com o governo. As respostas mostram um abismo entre o sonho militante do socialismo democrático e reformista e o exercício do poder.

Nas duas últimas semanas o jornal O Globo enviou questionários a mais de 80 fundadores do PT, com base em lista elaborada pela Fundação Perseu Abramo e fornecida pelo diretório nacional do partido. A relação original com os cem nomes signatários da ata de fundação no Colégio Sion, em São Paulo, no dia 10 de fevereiro de 1980, foi perdida.

Excluindo mortos, desaparecidos, ausentes e pessoas que simplesmente se recusaram a responder ao questionário, 38 petistas históricos avaliaram o governo petista e apontaram as piores e melhores coisas nos dois anos de Lula no poder.

A maioria deles continua ligada ao partido, sendo que 16 exercem cargos no governo federal – seis ministros -, seis estão no Congresso Nacional, cinco são dirigentes partidários, um é governador.

O governador do Acre, Jorge Viana, uma das pessoas mais próximas de Lula e um dos que se disseram totalmente satisfeitos, resumiu o sentimento petista: "Não dá para comparar sonhos que acumulamos durante 20 anos que antecederam nossa chegada ao poder com o que foi feito. Isso para não nos frustrarmos."

Candidato do Planalto à presidência da Câmara, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) parece conformado. "A vida muda. A gente verificou que as mudanças que queríamos não poderiam ser feitas do dia para a noite e exigiam um processo mais longo", disse.

As explicações para a diferença entre sonhos e ação vão desde a mudança do contexto econômico internacional até falta de vontade política, passando por alianças eleitorais, má-vontade do Congresso, inabilidade política, sectarismo, "herança maldita". Para o ministro das Cidades, Olívio Dutra, o governo Lula cumpriu até agora entre 70% e 80% do programa para estes dois anos, mas falta mais participação popular: "Mudança só acontece com protagonismo do povo".

Nilmário Miranda, secretário nacional de Direitos Humanos, considera a demora natural na democracia: "Minhas expectativas estão sendo gradativamente atendidas".

Perguntado sobre a pior coisa da administração, o ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, respondeu: "O pior de um governo, de qualquer governo, é a acomodação, é não brigar com os limites."

"Isso não me agrada"

São Paulo – O assessor especial da Presidência para o Fome Zero, Selvino Heck, admitiu a dificuldade do governo com a enorme máquina: "Nem quem está no governo sabe de tudo. Falta aproximar o econômico do social". A morosidade nas ações sociais incomoda o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP). "É evidente que não estamos conseguindo distribuir renda. A lógica que favorece quem tem mais poder e dinheiro está mantida e isso não me agrada". afirmou. "O fato mais negativo é a capacidade do governo de errar na política. Não podemos errar tanto no que não depende de dinheiro", arrematou.

Jorge Viana tem opinião semelhante: "Estamos cometendo falhas na política. E coisa que a gente sabia fazer era política. Temos que melhorar a articulação política do governo e do PT. Ainda não temos a exata dimensão do que significa ser governo".

Para o maranhense Freitas Diniz, um dos primeiros deputados a migrar do MDB para o PT, em 1980, as alianças eleitorais desfiguraram o governo e o partido. "Aquele PT (de 1980) não chegou ao poder. Se tivesse chegado não teria necessidade de fazer acordos com o que há de mais atrasado no País." Para o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, um dos motivos para as dificuldades é a relação equivocada com o Congresso. "Como fazer algo com rateio do Orçamento de R$ 2 milhões por deputado? A pior coisa é não ter rompido com a lógica elitista da negociação parlamentar."

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