Fotos de torturado não são de Vladimir Herzog

Brasília

– A Secretaria Especial de Direitos Humanos informou, na tarde de ontem, que o personagem que aparece nas fotos divulgadas esta semana pela imprensa não é o jornalista Vladimir Herzog, morto pela ditadura militar. A Secretaria chegou à conclusão após pedir uma análise da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Relatório enviado ontem pela Abin diz que as fotos são produto de uma investigação ilegal feita em 1974 pelo extinto Serviço Nacional de Inteligência (SNI).

A Secretaria afirma ainda que não vai divulgar os nomes das duas pessoas que aparecem nas fotos porque elas foram obtidas numa investigação ilegal, que violou a vida privada das pessoas. A confusão começou no domingo passado, quando o jornal Correio Braziliense publicou fotos que seriam de Herzog, sendo humilhado na carceragem do DOI-Codi de São Paulo, antes de ser assassinado, em outubro de 1975, durante a ditadura militar. Elas foram passadas pelo ex-araponga do serviço de inteligência do Exército, o cabo José Alves Firmino.

A própria viúva do jornalista, Clarice Herzog, chegou a confirmar em entrevista que as imagens eram mesmo de seu marido: “A foto em que ele aparece ao lado da mulher é estranha. Eu não seria capaz de reconhecê-lo. A outra, em que ele aparece de lado, é bem parecida, mas pode deixar dúvida. Mas na que ele está abaixado e de frente, eu reconheci. Sei que é ele. Conheço meu marido. É a expressão dele, é a boca dele, é o relógio que ele usava”, disse. Nesta quinta, Clarice não quis fazer qualquer comentário. Assim que confirmou a informação de que as fotos não eram de Herzog, o secretário especial dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, informou a viúva.

A tentativa do governo, de abafar o caso, pode esbarrar em iniciativas da sociedade civil, que pretende reabrir o caso Herzog. O Grupo Tortura Nunca Mais pretende iniciar na próxima semana, uma campanha, no Brasil e no exterior, pela apuração de casos de tortura policial e o esclarecimento das mortes de opositores do regime militar, como a do jornalista Vladimir Herzog. A informação foi dada pela primeira secretária da entidade no Rio, Victoria Grabois.

Ela afirmou que a entidade quer a reabertura do inquérito que apura a morte do jornalista e afirmou que o governo Lula retrocedeu na questão. “Com Fernando Henrique, demos um passo à frente, e no governo Lula estamos tendo um retrocesso. Lula criou uma comissão que só nos enrola”, queixou-se Victoria, para quem Lula quer um bom relacionamento com as Forças Armadas. “Tenho certeza de que ele tem medo de se indispor com os militares.”

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