FHC diz a portugueses que queria ser poeta

Homenageado hoje (11) à noite pelo presidente Jorge Sampaio com a mais alta condecoração do governo português, em uma solenidade no Palácio da Ajuda, o presidente Fernando Henrique Cardoso, sem dispensar a formalidade que a ocasião exigia mas com a desenvoltura de quem se sentia em casa, fez um discurso com alta dosagem de emoção, falando de “amizade”, “reencontro” e “amor”. E acabou revelando um desejo de sua juventude que poucos conheciam: ele quis ser poeta.

Ao agradecer a gentileza do presidente Jorge Sampaio, que, no discurso, salientou seus “contributos” para as ciências sociais, Fernando Henrique contou que chegou a essa formação acadêmica graças a um português. “Eu devo a um português, Nuno Fidelino Figueiredo, um exilado, professor de Literatura. Nos encontramos numa cidade perdida de São Paulo, chamada Lindóia. E eu, então, meu Deus, queria ser poeta!”, revelou.

Falou da admiração dele e de outros jovens colegas pelo professor português, pela busca insistente por contatos mais próximos e, por fim, do convite para uma conversa em seu gabinete em São Paulo. “Fui vê-lo, e ele me incentivou a que eu entrasse na faculdade de Filosofia. Mas percebeu logo que eu não era dotado para as letras e, com jeito, me encaminhou à sociologia”, contou Fernando Henrique, em seu descontraído discurso para uma platéia de autoridades dos governos brasileiro e português. “E ao me encaminhar na Sociologia abriu-me esse mundo novo ao qual me dediquei por várias décadas. Sem dizer que me propiciou também encontrar a minha Ruth, que ia estudar antropologia naquele mesmo momento.”

À influência portuguesa o presidente disse que deve também outras decisões e momentos de sua vida acadêmica e política.

Fernando Henrique encerrou o discurso agradecendo as homenagens e a amizade dispensadas pelos portugueses nesta sua visita a Portugal.

“Nada me tornou mais feliz neste final de mandato do que poder voltar a Portugal e encontrar aqui os amigos de sempre, com o olhar encorajador de sempre, com a benevolência de sempre, dizendo a mim, quase como se dizendo assim ‘você ganhou’, quando eu perdi! Muito obrigado”, encerrou o presidente sob aplausos intensos.

Na cerimônia, ele foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, uma comenda dispensadas na atualidade apenas ao rei da Espanha e à rainha da Inglaterra.

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