Fetos de resina em igrejas causam polêmica no Rio

A apresentação de fetos de resina nas paróquias do Rio de Janeiro, durante as missas, está causando polêmica. Entidades de defesa dos direitos das mulheres acusaram a Igreja de "terrorismo" e de desqualificar o debate a respeito da legalização do aborto e das pesquisas com células embrionárias. O bispo-auxiliar, d. Antonio Augusto Dias Duarte, responsável pela campanha, não aceita a acusação. "A imagem de uma criança de 12 semanas não é ameaçadora. É singela. Isso não é terrorismo. A Igreja tem o direito de conscientizar a população" afirmou.

Como a Campanha da Fraternidade tem como tema o combate ao aborto, d. Antonio autorizou a confecção de 600 bonecos para "para que as pessoas tenham consciência do que o ato representa". As imagens foram distribuídas por 264 igrejas do município, no início de fevereiro. A sugestão era para que os fetos fossem exibidos na procissão do ofertório, mas em algumas igrejas o boneco ficou exposto no altar, num pote com gel, que simulava a placenta.

"A primeira vez que vi me assustei. Mas acho que o objetivo é esse: fazer as pessoas pensarem no assunto, não importando se são a favor ou contra o aborto", disse Joanna Collares, ministra da Eucaristia da Igreja Nossa Senhora da Divina Providência, no Jardim Botânico. Para Dulce Xavier, da Organização Não-Governamental (ONG) Católicas pelo Direito de Decidir, o uso dos fetos nas missas se resume a uma "campanha de terrorismo, de horrorificação".

"Isso é feito para chocar, para provocar comoção e não fazer o debate que precisa ser feito. Não trata das situações concretas de quem precisa fazer um aborto: do empobrecimento, da falta de informação, da violência contra a mulher, porque no Brasil a cada 15 segundos uma mulher é vítima de estupro", afirmou. A Coordenadora da Articulação das Mulheres Brasileiras (AMB), Rogéria Peixinho, disse que recebeu a notícia da campanha da Arquidiocese do Rio "com muito espanto". "Eu soube que adolescentes passaram mal ao assistir a palestras em que mostraram o vídeo em que um bebê tem a cabeça arrancada. Isso é muito perverso, porque esses adolescentes ainda estão em formação. Essa campanha extrapolou o bom senso", afirmou.

D. Antônio confirmou que ele próprio ministrou as palestras em hospitais, escolas, paróquias e seminários. "Eu sou médico, vi cenas dramáticas de acidentes e politraumatizados. Mas até hoje me choca a imagem de um aborto. Mostrei um vídeo com imagens reais, não há terrorismo", afirmou. A AMB prepara um manifesto para ser distribuído à imprensa e pela internet, criticando a posição da igreja. Mas de acordo com o bispo-auxiliar, a polêmica tem data para terminar: a campanha se encerra no domingo anterior à Páscoa.

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