Expedição segue rota de Saint-Hilaire

Um grupo de botânicos brasileiros e franceses refaz, quase 200 anos depois, os mesmos caminhos percorridos pelo naturalista e viajante francês Augustin de Saint-Hilaire (1779-1853). O objetivo da equipe é traçar um paralelo na quantidade e na variedade de vegetação encontrada, tanto tempo depois e após os efeitos nocivos de desmatamentos e urbanizações.

O projeto é viabilizado graças a um termo de cooperação firmado entre o governo paulista e a administração de Île-de-France, a região da França que abrange a cidade de Paris. O pontapé inicial da parceria foi a criação, em 2010, do Herbário Virtual de Saint-Hilaire, um catálogo online da coleção de Saint-Hilaire (disponível em hvsh.cria.org.br).

O viajante francês ficou no Brasil de 1816 a 1822. “Nesse período, fez duas expedições em São Paulo”, diz o botânico Sérgio Romaniuc Neto, do Instituto de Botânica, órgão ligado à Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo. “Uma em 1819, na qual ele deixou na cidade 20 caixas de plantas que tinha coletado e desceu para o sul do Estado, indo em seguida até a Argentina. E a outra, em 1822, quando ele entrou no Estado por Minas e caminhou pela região do Vale do Paraíba.” Claro que a dificuldade encontrada por Saint-Hilaire, ao se embrenhar por matas quase desconhecidas, não faz mais parte das preocupações da equipe atual, composta por cinco pesquisadores – brasileiros e franceses.

O primeiro trecho refeito foi o de 1822. “Saint-Hilaire levou dois meses”, afirma Romaniuc. “Eram oito mulas. O botânico seguia em uma, seu camareiro francês em outra, um índio botocudo – que ia a pé – e dois índios crianças eram os guias e havia ainda um tocador de mulas. Três mulas serviam apenas para carregar as coisas.” O trecho de 1819, mais longo, está previsto para ser percorrido pelos pesquisadores ainda neste ano.

Análises – De acordo com Romaniuc, o estudo – cujos resultados concretos só serão conhecidos alguns meses após o término da segunda expedição – pretende fazer uma análise diacrônica da biodiversidade da região. Isso significa avaliar a presença de espécies considerando o espaço e o tempo. “Mas não estamos atentando apenas para a ‘presença’ e a ‘ausência’ de determinada planta, e sim para a representatividade delas”, explica.

Um exemplo: Saint-Hilaire relatou, reiteradas vezes, encontrar jacarandás-mimosos e quaresmeiras durante o trajeto; a equipe atual encontrou poucos exemplares da segunda árvore, e nenhum da primeira. Para Romaniuc, a maior contribuição do projeto, portanto, é poder propor um “método de trabalho para estimar de fato a perda da biodiversidade”. Porque, como ele lembra, há também a questão da adaptação da paisagem às novas situações. “A flora evolui naturalmente no espaço, ao longo do tempo. Precisamos entender como ela está ocupando a paisagem”, afirma.

Esplendor – Em sua chegada a São Paulo, consta que Saint-Hilaire ficou particularmente entusiasmado pelas “matas paulistas”, com as quais se deparou subindo a Serra da Mantiqueira. Era Mata Atlântica em seu esplendor, sem os desmatamentos e as manchas urbanas que a fizeram praticamente inexistente nessa região. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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