EUA chamam Brasil de “pequeno”

San José – O representante comercial dos Estados Unidos, Robert Zoellick, disse ontem na Costa Rica que os Estados Unidos, diante das negociações de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca), “não podem se dar ao luxo de permitir que um país pequeno lhes diga o que deve ou não ser negociado”. Ele não deixou claro se o “país pequeno” citado seria o Brasil, mas, nos últimos dois dias, Brasil e EUA polarizaram a discussão e trocaram farpas na negociação da Alca.

Ele também pediu que a Costa Rica rompa o monopólio estatal das telecomunicações, alternativa rejeitada pela maioria da população e dos políticos, durante uma reunião com membros do Congresso. “O senhor Zoellick nos disse que para os Estados Unidas a questão das telecomunicações deve ser colocada na mesa de discussões para um acordo de livre comércio com a América Central, porque para os americanos é uma questão essencial”, afirmou o deputado da oposição Humberto Arce.

O chefe da delegação brasileira à reunião de discussões da Alca, iniciada anteontem em Trinidad e Tobago, reagiu às declarações de Robert Zoellick e Peter Allgeier, chamando-os de “infantil” e “mal-intencionado”. Na primeira intervenção nas discussões do Comitê de Negociações Comerciais da Alca, o subsecretário-geral de Assuntos da América do Sul, Luis Felipe de Macedo Soares, chefe dos negociadores brasileiros, sem citar Zoellick ou Allgeier, respondeu com severidade a acusações levantadas pelos negociadores norte-americanos contra a atuação do Brasil, mencionando expressões usadas nas críticas ao governo brasileiro.

Macedo Soares respondeu ao governo Bush após falar das dificuldades para atender, ao mesmo tempo, na Alca, aos interesses dos Estados Unidos e das economias menores do continente. “É infantil ou até mesmo mal-intencionado acusar os que chamam atenção para essas dificuldades de utilizar ?retórica destrutiva?” , disse o embaixador brasileiro, repetindo uma expressão usada por Allgeier na semana passada: “um exemplo desse tipo de retórica é inventar uma divisão maniqueísta entre os países que ?podem fazer? e aqueles que ?não farão?.

O recado foi claro: Zoellick foi o autor da comparação, logo após o fracasso da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Cancún, há duas semanas, quando insinuou que o Brasil estaria no grupo dos países que “não farão” (acordos).

Americanos temem guerra comercial

Washington

– Após o fracasso das negociações comerciais da Organização Mundial do Comércio (OMC) no México, o governo dos Estados Unidos analisa a possibilidade dos países em desenvolvimento entrarem com ações contra os ricos pelos subsídios agrícolas, afirmou ontem um representante comercial norte-americano. “Estamos gastando bom tempo analisando” as chances de diversos litígios na OMC, disse o americano Allen Johnson, negociador chefe para agricultura.

Em 31 de dezembro deste ano acaba a “Cláusula da Paz”, um pacto inserido num acordo multilateral de comércio que desencoraja os países a entrarem com pedidos formais contra subsídios agrícolas em países ricos. Os EUA, a União Européia e outros países desenvolvidos esperavam que o encontro em Cancún, no mês passado, pudesse avançar na reforma do comércio agrícola mundial para evitar processos legais ou estender a cláusula da paz.

Mas desacordos entre países ricos e pobres emperraram os diálogos. Johnson respondeu que a possibilidade dos subsídios dos países ricos serem alvos de reclamações formais no ano que vem poderia ser evitado se nos próximos meses houver retomada das negociações.

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