Estudo consegue interligar cérebros de animais

Um estudo publicado na quinta-feira (28) pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, mostra que é possível conectar eletronicamente os cérebros de dois animais e transmitir informações de um para outro. O trabalho, publicado na revista Scientific Reports, inaugura uma nova linha de pesquisa batizada por Nicolelis de Interface Cérebro-Cérebro (ICC); uma variante da Interface Cérebro-Máquina (ICM), em que comandos elétricos do cérebro são usados para mover aparatos robóticos.

O artigo, submetido à revista em dezembro, sinaliza uma retomada da publicação de trabalhos pelo Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), interrompida há mais de um ano e meio por uma ruptura entre Nicolelis e um grupo de pesquisadores que abandonou a instituição. Um dos coautores é Carolina Kunicki, aluna de pós-doutorado no IINN-ELS. Segundo as informações contidas no estudo, ela participou da condução de experimentos em Natal, enquanto Nicolelis e outros autores da Duke desenharam os experimentos, analisaram os dados e escreveram o trabalho.

O estudo foi feito com recursos do CNPq para o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Interface Cérebro-Máquina (INCT-Incemaq), da Finep e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern), além de fontes nos Estados Unidos e em Portugal.

O trabalho descreve uma sequência de experimentos em que ratos foram treinados para realizar tarefas envolvendo estímulos visuais e táteis, como o acionamento de alavancas para obter água quando uma luz acende. A atividade cerebral relacionada a essas tarefas foi captada por meio de eletrodos implantados no cérebro dos animais, decodificada e transferida eletronicamente em tempo real para o cérebro de outros ratos que, com isso, “aprenderam” a realizar as mesmas tarefas com um grau semelhante de acerto. Os primeiros ratos foram chamados codificadores e os segundos, decodificadores.

“Essas experiências mostraram que nós estabelecemos uma ligação de comunicação direta e sofisticada entre cérebros, que o cérebro decodificador funciona como um dispositivo de reconhecimento padrão. Então, basicamente, estamos criando uma espécie de computador orgânico”, afirma Nicolelis, em um comunicado divulgado pela Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa, que administra o IINN-ELS.

Os experimentos pioneiros foram desenvolvidos na Duke. Como uma demonstração adicional, a experiência foi repetida com a transmissão de dados a longa distância, via internet, entre ratos codificadores no IINN-ELS e ratos decodificadores na Duke.

A Scientific Reports é uma das mais de 80 revistas do grupo Nature. Em uma reportagem publicada no site do grupo na quinta-feira (28), outros especialistas questionaram o propósito do trabalho, chegando a compará-lo a um “roteiro pobre de ficção científica”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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