Estratégia do Planalto é proteger o presidente

Arquivo / O Estado

Todo o esforço do governo e do
PT nos próximos meses será
proteger Lula das denúncias.

Brasília (AG) – A crise política deflagrada pelas denúncias de corrupção em estatais e do mensalão de R$ 30 mil que seria pago pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, a parlamentares aliados, levou o Planalto a pôr em prática uma estratégia para tentar blindar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ordem é não deixar que as investigações da CPI atinjam o principal patrimônio do governo Lula: o próprio presidente.

Todo o esforço do governo e do PT nos próximos meses será proteger Lula das denúncias. Se, para evitar a contaminação, for preciso sacrificar ministros e dirigentes do PT, isso será feito. A semana terminou com dois petistas na linha de tiro de setores do governo: Delúbio e o chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Numa reunião no Planalto, no auge da crise, a avaliação feita por ministros e assessores, na presença de Lula, é de que, diferentemente da crise do governo Collor, onde as denúncias se fecharam em torno do então presidente, agora elas não chegam a Lula. Segundo um ministro, a CPI do PC (alusão a Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente) foi criada para conseguir provas contra o presidente. Por isso, no núcleo do governo, a revolta é grande em relação ao presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), já que ele teria tentado jogar Lula no olho do furacão. O Planalto considera a tentativa frustrada.

?O presidente Lula está blindado. Não há denúncias contra ele. É uma situação bem diferente da do governo Collor, quando o alvo era o então presidente?, diz o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

O PT e o governo organizaram uma tropa de choque para tentar controlar os rumos da investigação na CPI dos Correios e, assim, preservar ao máximo a imagem de Lula. Para a linha de frente desta operação foram designados, além de Mercadante, os líderes do PT, Delcídio Amaral (MS), e do PMDB, Ney Suassuna (PB), que se indicaram para compor a CPI.

Na semana passada, Lula pediu empenho do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para evitar excessos na CPI. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, vai monitorar os passos da comissão aparando arestas com os aliados. José Dirceu foi excluído do processo de blindagem do presidente. A preocupação é de que sua exposição neste momento leve a crise para a ante-sala do gabinete presidencial. Outro temor é de que a oposição aproveite para resgatar o escândalo protagonizado pelo ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado cobrando propina de um bicheiro.

?O governo errou ao não remover o ministro Dirceu depois do escândalo Waldomiro Diniz. Agora, a crise pode ser pior com as denúncias atingindo em cheio o tesoureiro do PT. Está explícito que Delúbio e Waldomiro estavam a serviço de alguém maior quando negociavam?, diz o ex-líder tucano deputado Jutahy Júnior (BA).

No PFL a avaliação é semelhante, afirma o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN): ?A CPI do Waldomiro ficou pequena diante da CPI dos Correios, e esta também, diante do mensalão. Vamos ver o que ocorre daqui para a frente?.

Eleitores manifestam decepção com o governo

Rio (AG) – Os momentos felizes até deixaram raízes, mas tantas ocorreram nos últimos dias que o fervor de muitos eleitores fiéis do presidente Luiz Inácio Lula da Silva esmoreceu. Vá lá que muitos perderam a esperança só com o PT ? e admitem estar cansados de perdoar as trapalhadas do partido. Mas as denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson, respingaram na imagem de Lula.

?Lula é um exemplo para toda a América Latina?, diz o uruguaio Milton Gonzalez, embaixador informal do PT no Posto Nove, em Ipanema. ?Mas os últimos acontecimentos… Vamos ver se dá tempo de ele se recompor antes da eleição?, desanima-se Milton, que durante uma semana tirou a bandeira do PT que mantinha hasteada em sua barraca.

Já o fotógrafo Ronald Salgado, de 52 anos, pediu desculpas aos filhos de 20 e 15 anos pelo fato de, em quatro eleições, tê-los feito entrar na cabine para votar em Lula: ?Errei, sim. Sinto-me enganado por Lula e pelo PT. É o fim da picada ele chamar o Roberto Jefferson de companheiro. Nunca imaginei que ia ver cena tão deprimente.

E bota deprimente nisso, diria a manicure Rosalinda Barbosa dos Santos, de 27 anos, que mantinha emoldurada na sala uma foto dela ao lado de Lula. Mantinha.

?Até acho que ele não rouba como os outros. Mas está deixando roubar. Nunca mais voto nele? diz ela.

Em 2006, Lula também não vai contar com os 17 votos da família da aposentada Lia Marques Nunes, de 67 anos: ?Ele era a última esperança do povo. Mas, parodiando a campanha passada, acho que a desilusão vai vencer a esperança em 2006?.

Ligações de Delúbio estão sob investigação

Brasília (AG) – Personagem-chave das denúncias de compra de parlamentares no Congresso, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, está sendo investigado pelo Ministério Publico Federal desde o ano passado e o foco são suas ligações com agências de publicidade que prestam serviço ao governo federal. Nos últimos dois meses, já foram emitidos mais de 30 ofícios a órgãos do governo com pedidos de esclarecimentos sobre esses contratos.

Desde o início do governo Lula, Delúbio mantém bom relacionamento com algumas dessas agências, o que chamou a atenção dos procuradores. A suspeita de que o relacionamento iria além de uma simples amizade foi reforçada ainda no auge do caso Waldomiro Diniz, quando uma testemunha teria relatado ao MP detalhes de um encontro entre o tesoureiro do PT e representantes de uma das agências.

O encontro ocorrido em São Paulo foi gravado e a fita anexada às investigações, o que pode acabar estabelecendo uma conexão entre o caso Waldomiro e as denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson, envolvendo a participação de Delúbio no pagamento do mensalão a deputados do PL e do PP.

Os procuradores estão especialmente interessados na amizade de Delúbio com o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio das agências DNA Propaganda e SMP&B. Marcos Valério é uma figura conhecida no meio publicitário pela carreira bem-sucedida e as boas relações com o governo e com Delúbio. Seria Valério, inclusive, o artífice da aproximação do tesoureiro com os outros caciques da propaganda oficial.

Embora seus negócios estejam sediados em Belo Horizonte, o publicitário também circula em Brasília e em São Paulo e tem ligações com parlamentares de partidos da base governista.

O homem que negocia na sombra

São Paulo (AG) – Foco das suspeitas que mergulharam o PT na pior crise de sua história, o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, é citado por militantes do partido como o homem que negocia na sombra com empresários e indica nomes para cargos do governo. A cúpula partidária o considera leal e competente, embora não tenha capacidade de fazer articulações políticas. ?Delúbio não é articulador político. O negócio dele é fazer a máquina se mover a mando de alguém?, diz um colega da cúpula petista.

Delúbio é tesoureiro há mais de 25 anos, desde que iniciou a militância no Centro de Professores de Goiás. Foi tesoureiro da CUT em Goiás, das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva em 1989, 1998 e 2002, e do PT. Sempre se destacou pela competência técnica proporcionalmente inversa à capacidade política.

Nas poucas vezes em que tentou operar politicamente, fracassou. Candidato a deputado federal em 1986, teve votação inexpressiva e nunca mais foi candidato. Ano passado, não poupou esforços para eleger o amigo João Alfredo na minúscula Buriti Alegre (GO), sua cidade natal. Enquanto petistas andavam de pires na mão, João Alfredo teve direito a showmício de Wanessa Camargo, bancado em parte pelo PT. Foi decisão pessoal de Delúbio. João Alfredo teve 1.720 votos ao custo de R$ 170 mil (R$ 100 por voto), ficou em segundo (29% dos votos) e elegeu-se no tapetão.

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