Eleição de Severino pode custar caro

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Severino não abre mão de dar mais dinheiro para deputados.

Brasília – O novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), foi recebido como um obstáculo no caminho do governo, mas a promessa de uma gestão corporativista, feita por ele, antes e depois de sua eleição, desgastará e enfraquecerá ainda mais a Câmara dos Deputados. Os deputados que não se iludam. O aumento salarial que será concedido por Severino pode ser festejado agora, mas, no futuro, poderá ser motivo de choro. O eleitor pode reagir e optar por uma profunda renovação dos 513 deputados.

Não é a primeira vez que a Câmara dos Deputados conta com um presidente corporativista. O deputado Inocêncio de Oliveira (PMDB), também de Pernambuco, presidiu a Casa no governo tucano, mas sua atuação como presidente não foi um desastre. Inocente apenas no nome, o deputado foi inteligente o suficiente para perceber que uma gestão voltada para agradar apenas o baixo clero poderia ser um desastre para sua carreira política e uma armadilha para o parlamento.

O presidente Severino Cavalcanti, ao contrário, não tem o que perder. Ele é um deputado em fim de carreira e que agora vive o seu melhor momento. Além disso, ele é, e sempre foi, organicamente vinculado ao baixo clero, aquele grupo de desconhecidos deputados que fazem política na linha do "toma-lá-dá-cá". Sua atuação pode transformar a Câmara em alvo da ira da opinião pública. No horizonte do governo, o fator Severino é administrável. A dificuldade é que o baixo clero vai ficar mais caro e a barganha pode chegar a níveis sem precedência. Se entrar nesse jogo, o governo vai se desgastar, mas a Câmara vai apanhar e se desidratar muito mais. Numa análise fria, pode-se dizer que Severino Cavalcanti é muito mais um problema do Congresso do que do governo. E isso vai custar caro para muitos que avaliam Severino apenas como uma pedra no caminho do governo Lula. Ao fim e ao cabo, essa pedra vai acabar trincando as vidraças do Congresso Nacional. (Agência Câmara)

Disputa em Brasília gera "guerrilha"

Brasília – A derrota do PT na disputa pela presidência da Câmara deu início a uma guerrilha por espaço no partido e no governo. Como não há lugar para todos, sobretudo para as estrelas petistas, não faltam aliados puxando o tapete uns dos outros. Os aliados querem ampliar sua presença e participação no governo. Os petistas querem o contrário.

Diante dessa situação nova, o presidente Lula vai passar as próximas duas semanas meditando sobre a reforma ministerial. Instalado na presidência da Câmara, o PP não aceita mais o Ministério dos Esportes, quer uma pasta forte, como a dos Transportes, ocupada pelo PL. Os integrantes do PP consideram que, pela posição que tem agora no poder, o partido merece ocupar até mesmo duas pastas. Mas também avaliam, numa espécie de chantagem, que a partir da presidência da Câmara terão muito mais força para liberar emendas parlamentares ao Orçamento do que num ministério setorial. Convidado para ser ministro, o ex-líder Pedro Henry corre o risco de não emplacar: teria perdido apoio interno.

"O PP deveria ocupar dois ministérios. O PMDB tem dois e dá menos votos que nós para o governo na Câmara", diz o líder José Janene (PR).

O PT também vive dias tensos e em clima de serpentário. O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), parece estar com os dias contados e foi excluído de uma reunião da coordenação de governo na terça-feira. Num almoço, ministros petistas defenderam que, a partir da derrota na Câmara, o líder do governo teria que ter uma relevância maior e com um perfil que agregasse mais. O discurso se enquadra no figurino do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

Estavam presentes ao encontro que, praticamente selou o destino de Luizinho, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, o secretário de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, os ministros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o presidente do PT, José Genoino, além de João Paulo Cunha.

"As funções de líder do governo e do PT terão agora de cumprir missão mais relevante. O presidente da Câmara não será mais um articulador do governo", afirma um ministro petista, confirmando a estratégia traçada na reunião.

Ministro não quer se envolver na disputa

Sem apoio em seu próprio partido, Luizinho tem despachado quase que diariamente com o ministro Aldo Rebelo em busca de uma saída. Mas o ministro decidiu não se envolver na disputa por espaço entre os petistas. Principalmente porque ele foi vítima do serpentário petista, durante a semana, quando vários deputados tentaram jogar em seu colo a responsabilidade pela derrota do PT na Câmara. "O que o Aldo faz lá?", pergunta o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).

"Queremos o João Paulo no Ministério!", diz o provável futuro líder da bancada do PT, Paulo Rocha (PA).

A gana dos petistas contra o ministro da Coordenação Política aumenta na medida em que ele é apontado como um dos vencedores do processo, ao lado do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do novo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). É que os três derrotaram a emenda da reeleição para as presidências da Câmara e do Senado.

No caso de Aldo Rebelo, ele ainda executou à risca a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de não promover um festival de fisiologismo na eleição do presidente da Câmara.

Já Mercadante foi favorecido com o fato de a derrota da Câmara ter praticamente tirado João Paulo do páreo na disputa pelo governo paulista.

"Agora a candidatura ao governo de São Paulo ficou entre mim e a ex-prefeita Marta Suplicy. Vamos chegar a um acordo", diz Mercadante pelos corredores do Congresso. (AG)

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