“Dirceu pode fazer Lula virar um réu”

Wilson Dias / ABr

Jefferson apareceu sem provas,
mas confirmou o mensalão.

Brasília – O presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), confirmou, em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, ontem, a existência do mensalão, o pagamento de propinas a parlamentares da base aliada, apesar de voltar a afirmar que não pode comprovar as acusações. Ele disse que o presidente do PT, José Genoino, e ministros tiveram conhecimento do esquema, entre eles, o da Casa Civil, José Dirceu, e o da Fazenda, Antônio Palocci.

Segundo Jefferson, Dirceu criou "um cordão de isolamento", que impediu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomasse conhecimento logo das denúncias. O petebista chegou a chamar Dirceu de Rasputin – monge que exerceu uma enorme influência no império russo, embora não tivesse cargo – e disse que, se ele não sair do governo, pode transformar Lula em réu: "Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, vai fazer réu um homem bom", provocou Jefferson.

Em suas declarações ao Conselho de Ética, Jefferson reafirmou que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, era o responsável pelo mensalão e voltou a falar nos valores de R$ 30 mil para cada deputado para que votasse com o governo. Jefferson confirmou que Marcos Valério Fernandes de Souza, publicitário de Minas Gerais, era o "pombo-correio", responsável por levar o dinheiro aos deputados. O presidente do PTB voltou a dizer também que o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, que seria responsável pela partilha de cargos do governo federal, participava do esquema. "O PTB não é responsável pela corrupção nos Correios. Ali tem a mão do governo", acusou.

Jefferson disse ainda que contou a história do mensalão para os ministros Dirceu, Palocci, Ciro Gomes (da Integração Nacional); Walfrido dos Mares Guia (do Turismo); e Miro Teixeira (à época no Ministério das Comunicações). "Ele nega, mas eu disse isso pra ele, olho no olho", afirmou o presidente do PTB sobre o ministro da Fazenda. Para o deputado, o esquema do mensalão foi encerrado por ordens de Lula. "O presidente Lula mandou parar, tenho certeza. Finalmente pude dizer ao presidente o que os ministros irresponsavelmente não passaram para ele. Também tenho lido que o presidente recomendou que o tesoureiro (Delúbio) fosse afastado. Mas Lula é presidente do governo, não do PT", afirmou.

Jefferson repetiu o que já tinha dito em entrevista ao jornal Folha de São Paulo sobre a reação do presidente ao saber, posteriormente, da existência do mensalão: "Foi como se recebesse uma facada. O presidente chorou, se levantou, me deu um abraço e me mandou embora. (…) Vi um inocente desabar. Um homem de bem, simples, correto, que se sentiu traído".

Indagado pelo deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), relator do processo no Conselho de Ética da Câmara, Roberto Jefferson não se opôs à quebra de seu sigilo fiscal, bancário e telefônico. Também disse que está à disposição para uma acareação com qualquer uma das pessoas citadas por ele no depoimento. Jefferson confirmou ao relator que vai apresentar nesta quarta-feira sua defesa por escrito ao Conselho de Ética. Sobre os R$ 4 milhões que teria recebido do PT, o presidente do PTB disse que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pode confirmar a história. O PSDB vai apresentar requerimentos para convocar empresários, dirigentes do PT e ministros do governo Lula para serem ouvidos na CPI dos Correios, que ontem adiou o anúncio de seus presidente e relator. Os deputados Gustavo Fruet (PR) e Eduardo Paes (RJ), integrantes da CPI, assinaram os requerimentos para convocação do ministro da Casa Civil, José Dirceu, do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, do secretario-geral do partido, Sílvio Pereira, do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Jorge Félix, do empresário Mauro Dutra, dono da empresa de informática NovaData e amigo do presidente Lula, e dos representantes da SkyMaster Airlines, empresa que tem contrato com os Correios.

‘Lula tem culpa, embora não tenha dolo’

Brasília – O líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), afirmou ontem, no Conselho de Ética da Casa, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tem culpa no caso do mensalão, embora não intencional. "Lula não pode ficar completamente de fora. Foi ele que montou o governo. Ele tem culpa, embora não tenha dolo. Foi imprudente ao nomear as pessoas. Não pretendo chegar ao presidente, mas quero ressaltar que o governo está sangrando, desnecessariamente, porque fez as alianças erradas."

José Carlos Aleluia enfatizou seu apoio ao presidente do PTB, Roberto Jefferson: "Vossa Excelência pode ter certeza de que não está só. Não vamos deixar que desqualifiquem suas declarações. O senhor terá, inclusive, apoio da base do governo, por parte dos deputados que querem ver todas as denúncias investigadas".

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