Dirceu na Câmara em clima de guerra

José Cruz / ABr

José Dirceu na tribuna: vaias,
aplausos e confusão.

Brasília – O discurso do deputado José Dirceu (PT-SP), em sua volta à Câmara, provocou ontem tensão, bate-boca e até agressão no plenário. Durante a fala do ex-ministro, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar reformado, chamou Dirceu de terrorista, em resposta à citação do petista sobre seus tempos na clandestinidade e na guerrilha contra a ditadura. Os gritos de Bolsonaro causaram reação nas galerias, tomadas em maioria por militantes do PT, que passaram a gritar palavras de ordem.

Depois do discurso de Dirceu, o tumulto aumentou: Bolsonaro e o deputado Walter Pinheiro (PT-BA) por pouco não se agrediram. A confusão foi maior quando Bolsonaro exibiu para a platéia um saco de lixo preto com o nome de Lula escrito com um duplo ‘L’, em alusão ao ex-presidente Fernando Collor. Com a outra mão, Bolsonaro fazia o sinal de roubalheira. Parlamentares petistas cercaram o pefelista e um deles tentou arrancar o saco de lixo das mãos de Bolsonaro.

Houve empurra-empurra. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), pediu à segurança, pelo microfone, que evacuasse as galerias e suspendeu a sessão. Das galerias, militantes do PT passaram a chamar Bolsonaro de fascista. Durante o discurso, Dirceu foi interrompido por vários pedidos de aparte e houve gritaria quando não concedeu alguns deles. Dirceu atacou o governo de Fernando Henrique Cardoso e provocou uma reação irada do deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), que usou o microfone aos berros.

Quando falava, Dirceu foi interrompido por vaias e aplausos. O clima no plenário lembrava o de um estádio de futebol, com gritos de torcida. O presidente Severino Cavalcanti esbravejou: "Eu quero manter a ordem, tem orador na tribuna, precisa ser respeitado!".

Sobre as suspeitas de envolvimento em corrupção, lançadas contra ele pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), Dirceu afirmou na tribuna que não é acusado formalmente de nada. E repetiu que não se envergonha do que fez no governo. "Não respondo a um só processo em 40 anos de vida pública. Não sou réu", disse. Dirceu garantiu que prestará os "esclarecimentos que forem necessários" ao Conselho de Ética e à Corregedoria da Câmara. Ele justificou a política de alianças do governo. "Servi durante 30 meses ao governo e me sinto honrado. Não me envergonho e não faço autocrítica sobre a política de alianças. Fomos eleitos para governar o Brasil, mas só temos 90 deputados e 13 senadores do PT. Para governar, era preciso fazer alianças e compor uma base", justificou, dizendo-se pronto a ser "mais um deputado" comandado pelo líder Arlindo Chinaglia (PT-SP).

No final, Dirceu pediu desculpas a Alberto Goldman por ter antecipado o debate político com a oposição, ao fazer críticas ao governo anterior. E acrescentou que tinha prometido a si mesmo que não faria isso no primeiro discurso em seu retorno à Câmara. 

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