Crise bate na porta e apavora Severino

Agência Brasil
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Severino Cavalcanti: mensalão
de empresário e cheques
sem fundo com janene.

Brasília – Em um dia atípico nos últimos meses em que a calmaria reinou no Palácio do Planalto, quem entrou em pânico ontem, em Brasília, foi o presidente da Câmara Federal, Severino Cavalcanti (PP-PE). Tudo começou quando o jornalista Ricardo Noblat divulgou em seu blog que as revistas semanais noticiariam nas suas edições de hoje uma série de "falcatruas praticadas por ele na Câmara".

Severino Cavalcanti entrou em pânico e convocou uma reunião de emergência com seus colegas de maior confiança na casa dele de presidente da Câmara dos Deputados, na antiga Península dos Ministros, área nobre do Lago Sul de Brasília. A primeira reação foi cancelar a viagem que faria aos Estados Unidos. No começo da noite, ele recuou da decisão de não viajar a Nova York. Alguns amigos disseram a ele que pegaria mal cancelar a viagem. Seria como passar um atestado de que tem culpa no cartório.

Os problemas de Severino Cavalcanti seriam muitos. Primeiro, ele receberia uma espécie de mensalão do empresário Sebastião Augusto Buani concessionário do restaurante da Câmara Federal, para não tomar dele a concessão. Além disso, o deputado federal José Janene (PP-PR) prometeu levar muitos outros com ele se for realmente cassado e entre estes, encontra-se Severino. Até o deputado José Dirceu (PT-SP) atira em Severino. No início da semana, em São Paulo, o ex-ministro contou a um grupo de amigos que Janene resgatou os cheques sem fundo passados por Severino nas campanhas de 2002 e 2004 e colecionados por comerciantes de João Alfredo, cidade natal do presidente da Câmara. Por esta razão, "Severino está nas mãos de Janene", garantiu Dirceu.

Apesar de tudo isso Severino jura que é inocente. Em nota divulgada ontem, Severino contesta denúncias que teriam sido feitas pelo empresário Sebastião Augusto Buani a revistas semanais sobre uma suposta cobrança de propina para renovar contrato do restaurante que fica no 10.º andar da Câmara. A nota diz que o contrato com Buani vence no dia 14 de setembro e não será renovado porque o restaurante está inadimplente com a Câmara em R$ 150 mil.

Severino diz que a dívida vai ser executada e que o empresário teria feito pressões nos últimos dias para forçar a renovação. De acordo com a nota, "frustrado em suas pretensões, o empresário mente descaradamente para obter favores". O presidente da Câmara diz que o empresário afirma ter um documento que lhe asseguraria mais cinco anos de contrato. A nota afirma, porém, que o documento não pode ter validade jurídica, já que os contratos da Casa são renovados anualmente.

O presidente da Câmara informa ainda que já pediu providências ao Ministério da Justiça. A nota troca o nome do ministro Márcio Thomaz Bastos por José Thomaz Bastos. Severino diz ainda que determinou que a direção da Câmara preste todas as informações sobre os contratos da Casa.

"É questão de tempo chegar em Severino"

São Paulo – O deputado Fernando Gabeira (PV-SP) afirmou ontem acreditar que é apenas uma questão de tempo para as comissões parlamentares de inquérito (CPIs) estabelecerem um vínculo entre os casos de corrupção do governo e o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE). "Na medida em que as investigações avançarem, no caso especifico do PP, e começarem a ser interrogados os assessores e líderes do partido, certamente, teremos uma proximidade com o presidente da Câmara, e aí saberemos se ele está ou não envolvido com isso tudo."

Gabeira participou ontem de um seminário organizado pelo PSDB, em São Paulo, e voltou a dizer que pretende entrar com um pedido de impeachment de Severino, após a apuração dos casos de corrupção na administração federal. "Quando ele se expressa, já mostra um envolvimento perigoso (com os deputados acusados de corrupção), mas pode estar ainda mais envolvido. As investigações vão dizer."

Gabeira disse mais: "Eu o considero indigno do cargo e acredito que ele tem várias irregularidades já cometidas. Acho que é incompatível com o Brasil. Nós somos um pouco melhor do que isso e queremos ter um presidente da Câmara que no mínimo expresse a média do Brasil e não a sua visão mais atrasada", disse Gabeira.

Ao comentar o relatório parcial das CPMIs dos Correios e do Mensalão, que recomenda a abertura de processo de cassação do mandato de 18 deputados por quebra de decoro parlamentar, Gabeira declarou que não é apenas o Congresso que está sob suspeição, mas o governo também, e disse que a lista seria maior se um dos líderes apontasse para quem repassou dinheiro. "Esse processo de corrupção na Câmara dos Deputados é uma metástase da corrupção no Palácio do Planalto", disse.

O deputado disse que um movimento de luta pela credibilidade do Congresso intitulado "Brasil Verdade" está crescendo na Câmara e conta com a participação de integrantes de todos os partidos, incluindo PT e PP. "Nesse grupo há pessoas com plena capacidade de desenvolver um Congresso nessa transição com toda credibilidade. Evidentemente nós teremos que encontrar um nome ou alguém que expresse a média do Congresso", disse.

Gabeira também comentou as declarações do deputado José Dirceu, que disse estar sendo julgado politicamente: "Eu acho que ele tem razão. Nós não somos juízes. Se ele observar bem, a gente não usa toga", disse.

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