Congresso tem perto de 300 picaretas, reconhece Biscaia

Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil

Antônio Carlos Biscaia: nem o papa faria um governo limpo.

Depois de um mês de investigações e leitura detalhada de documentos da Polícia Federal e do Ministério Público, o presidente da CPMI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), está estarrecido com o número de parlamentares envolvidos com a máfia das ambulâncias. O petista concorda com a afirmação feita, em 1993, pelo hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a existência de 300 picaretas no Congresso.

Para Biscaia, a situação do Congresso é tão grave que nem o papa Bento XVI conseguiria fazer um governo de ?absoluta lisura e princípio?. ?Porque não basta ser uma pessoa santa com esse Congresso?, diz. Confira a entrevista:

O presidente Lula estava certo quando se referiu à existência de 300 picaretas no Congresso?

Biscaia – Na época ele deu um número absoluto. Não quero afirmar numericamente, mas eu creio que realmente o número de pessoas envolvidas em práticas ilícitas e que configuram quebra de decoro e mais adiante condutas criminosas é muito alto. Não quero estabelecer percentual nem número absoluto. Mas deve estar próximo disso que o Lula afirmou.

O senhor foi surpreendido com as descobertas da Polícia Federal, do Ministério Público e da CPMI?

Biscaia – Fiquei surpreso e se tudo que o Luiz Antônio Vedoin (um dos donos da Planam) disse no interrogatório for verdade, o envolvimento dos parlamentares é impressionante. Você fica perguntando a si mesmo: será que vale a pena quem tem princípios e valores permanecer na atividade política? Isso desestimula a participação na atividade política e principalmente na atividade parlamentar.

O mensalão e o escândalo dos sanguessugas podem detonar uma limpeza ética no Congresso?

Biscaia – Acredito que sim. É por isso que continuo lutando. A única coisa que se pode extrair de positivo é que os fatos estão sendo revelados. A revelação é positiva, mas temos de ter conseqüência nisso. Não só com a punição dos envolvidos, mas com medidas para barrar isso. Eu já defendo o fim da emendas parlamentares ao Orçamento.

A divulgação da lista com o nome dos 57 parlamentares não corre o risco de ser usada eleitoralmente?

Biscaia – Estou tendo todo empenho para não politizar a CPMI. Nós tínhamos duas alternativas em relação à lista: não revelar nesse momento e aí poderiam alegar que de alguma forma estávamos acobertando, e revelá-la, o que provoca disputa política. Isso é inevitável. Também tenho rejeitado iniciativas individuais de alguns parlamentares que querem apresentar provas contra seus adversários políticos. Até 16 de agosto, que é o prazo fatal para apresentar o relatório, todos os nomes serão revelados.

Na sua avaliação, os envolvidos em irregularidades terão dificuldade de se reeleger? Ou eles só serão punidos na Justiça?

Biscaia – Alguns terão dificuldade. Mas nem todos. Apesar de todas as restrições da legislação, ainda existe um abuso do poder econômico no processo eleitoral. Isso é flagrante. As pessoas gastam. Mal começou a campanha, você percebe que continua existindo caixa dois.

Os escândalos envolvendo os parlamentares levarão a uma melhoria na qualidade do Congresso?

Biscaia – Temo que possa ocorrer uma renovação para pior. Porque se as pessoas que têm consciência e votam com consciência deixarem de votar, pregarem o voto nulo, aqueles que abusam do poder econômico, que compram voto, vão continuar comprando, vamos ter um Congresso pior. 

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