CNBB pede a brasileiros que rezem pelo papa

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João e Genoveva Woidyla, primos de João Paulo II, rezam pelo papa, em Erexim.

Salvador – O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo primaz do País, cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, pediu ontem aos brasileiros que rezem pelo papa João Paulo II. ?Ele é uma pessoa tão popular que o seu sofrimento é como se fosse de um parente nosso?, comentou em Salvador. D. Geraldo destacou o grande esforço do papa para se manifestar, apesar da doença, e estar sempre próximo ao povo. Sobre a decisão de João Paulo de permanecer no Vaticano e não ser transferido para um hospital, o presidente da CNBB lembrou os últimos momentos de São Francisco. ?O santo quis morrer em meio aos seus frades, deitado por terra; assim João Paulo nesta hora se sente desejoso de ficar em casa como um ente querido: ele quer morrer em casa, não numa UTI, num lugar segregado, ele quer estar com a gente?, disse.

O arcebispo ressaltou que João Paulo enfrenta esse momento com muita consciência, tranqüilidade e sem desespero, ?ainda que as condições físicas sejam cheias de dores, dificuldade de respiração e de alimentação?. O cardeal pediu a Deus que o conforte. D. Geraldo antecipou para a noite de ontem uma missa para o papa, anteriormente programada para hoje, na Catedral Basílica. As igrejas de Salvador não ficariam abertas à noite, após a missa e na madrugada, em vigília do papa, mas Dom Geraldo pediu aos católicos que continuem rezando em suas casas.

Primos do papa

Milhares de gaúchos foram às igrejas rezar por João Paulo II ontem. Em Porto Alegre, o movimento foi maior na catedral metropolitana e na igreja de Santa Terezinha, no bairro Bom Fim. O arcebispo dom Dadeus Grings recomendou que os católicos dedicassem orações ao papa, mas ?sem angústia?, porque todos estão nas mãos de Deus. ?Assim como o papa se entrega à providência divina, nós aceitamos a realidade com muita tranqüilidade e muito conforto?, afirmou.

Em Erexim, na região norte do estado, João e Genoveva Woidyla, primos de João Paulo II, rezaram várias vezes durante o dia, em polonês, em frente ao retrato do papa colocado sobre uma mesa. Na tarde, o casal se dirigiu a matriz da cidade, para participar de uma missa em homenagem ao pontífice.

Na capital, uma mulher que dedicou parte da manhã às orações na catedral disse preferir que a proximidade da morte do papa não fosse verdade. Mas destacou que a Igreja é uma continuidade, que vem desde os apóstolos. ?Espero que o sucessor seja tão humilde, cristão e humano como ele?.

Em Guarani das Missões, município do noroeste do Rio Grande do Sul que tem uma estátua em bronze de João Paulo II na praça, a paróquia de Santa Teresa d?Ávila passou o dia lotada de fiéis em oração. A missa das 16 horas da primeira sexta-feira do mês excepcionalmente não foi rezada em polonês, língua falada por 80% dos moradores da cidade, porque havia muitas crianças e fiéis de comunidades que não dominam o idioma, mas que queriam participar da celebração. ?Nos unimos em orações para que o Cristo ressuscitado ajude nosso papa a carregar sua cruz?, explicou o pároco Alceu Zembruski.

Aparecida ora por João Paulo II

Aparecida – O Santuário Nacional de Aparecida em Aparecida, no Vale do Paraíba em São Paulo vai dedicar as 13 missas deste fim de semana ao papa João Paulo II. Desde a internação do pontífice, as orações se intensificaram na Basílica. Ontem, as cinco missas do dia e a Consagração à Padroeira do Brasil, às 15 horas, foram destinadas ao papa. Os fiéis acenderam velas e se emocionavam ao falar de João Paulo. ?Nós gostaríamos que ele continuasse com saúde, mas que seja feita a vontade de Deus?, disse a aposentada Maria de Lurdes Pereira, que todos os meses visita o santuário. ?Para nós ele é como Jesus Cristo?, disse a professora Hebe Fernandes.

Uma foto de João Paulo foi colocada no altar e o nome dele foi citado no início e no fim de cada celebração. Pela internet, o santuário também pedia aos fiéis orações ?fervorosas? e publicou uma foto do papa ao lado da imagem de Nossa Senhora.

Lembranças

O padre Antônio Agostinho Frasson, da Comunidade Redentorista de Aparecida, trabalha no santuário desde a década de 80 e foi um dos sacerdotes que acompanharam a visita do papa em julho de 1980. Na manhã de ontem, fez questão de rever a foto que tirou com o pontífice durante a visita do papa ao santuário. ?Foi muito emocionante o momento em que ele sagrou a Basílica à Nossa Senhora Aparecida. Até hoje me emociono. Saber que eu estava aqui?. Frasson acredita que o papa João Paulo ganhou tanta popularidade por causa de seu jeito evangelizador.

?Ele sempre se mostrou um apóstolo da paz, portador de um grande espírito missionário?. Frasson também mostrou o mosaico doado ao santuário por João Paulo naquela visita, onde estão os quatro santos evangelistas. O mosaico está na capela do Santíssimo Sacramento.

A visita do papa está documentada em um dossiê no Centro de Documentação e Memória do Santuário Nacional. ?Temos as atas, as fotos, os documentos, as reportagens e toda a história da passagem do papa por Aparecida?, afirmou o responsável, Manoel Gomes de Moraes.

Hummes vê o progresso como desafio

São Paulo – O cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo, dom Cláudio Hummes afirmou ontem que o grande desafio do futuro papa será fazer com que a Igreja Católica acompanhe as polêmicas novidades da vida atual, como a biotecnologia. ?Estamos vivendo em uma ebulição muito forte. A Igreja tem como grande desafio dialogar com todo esse progresso para dar novas respostas aos novos problemas?, disse Hummes.

O cardeal arcebispo ressaltou o carisma e o papel de missionário do papa João Paulo II e disse que não havia sentido em cogitar uma viagem a Roma antes do falecimento do pontífice. ?A ida a Roma dependerá de como vai se desenvolver o estado de saúde do papa. Creio que os cardeais seguirão para lá se houver o falecimento do papa?, disse dom Cláudio, quando interrogado se já teria sido chamado ao Vaticano.

O cardeal arcebispo evitou fazer comentários sobre o sucessor do papa, limitando-se a dizer que todos os cardeais são candidatos num eventual conclave. Cinco cardeais brasileiros estão aptos a votar.

Para dom Cláudio, o papa João Paulo II é o maior do século XX e um dos maiores pontífices da história da Igreja. Ele justificou sua declaração dizendo que o atual papa tem um enorme carisma, sempre teve uma grande influência sobre a população pobre e ajudou a fortalecer o diálogo entre as igrejas.

Dom Cláudio Hummes relatou que seu relacionamento com o papa sempre foi muito cordial e que João Paulo II costumava lhe perguntar sobre o Brasil. Ele se interessava principalmente pelo fato de 10% dos católicos brasileiros terem deixado a Igreja.

?O papa é um amigo, um irmão e um grande mestre?, disse.  Dom Cláudio ocupa dez cargos no Vaticano e é um dos quatro cardeais responsáveis pela área econômica do pequeno estado.

Cerca de mil pessoas, segundo estimativa da cúria, reuniram-se ontem na Catedral da Sé, no centro de São Paulo, para a terceira missa realizada apenas ontem pela saúde do papa.

D. Cláudio Hummes, que rezou a missa no início da tarde, chegou a comparar a agonia do papa à de Jesus em seu sermão: ?O papa está nos dando o grande exemplo final sobre o sofrimento. Está dando o testemunho mudo. Ele não quis se esconder porque quis dizer ao mundo que o sofrimento, e inclusive a morte, pode ter o sentido de salvação, que é a mesma mensagem da Páscoa.

O papa está dando o testemunho de que a vida vence e também está se preparando para um dia ressuscitar?. O cardeal Hummes disse esperar que o mundo se lembre do papa João Paulo II por seu esforço missionário. A declaração, foi feita após a missa dedicada ao líder da Igreja Católica, celebrada pelo cardeal na Catedral da Sé, no centro da cidade.

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