Carioca precisou de paciência para chegar ao trabalho

O carioca precisou de muita paciência para conseguir chegar ao trabalho na manhã desta segunda-feira, primeiro dia da entrada em vigor do decreto do prefeito Eduardo Paes (PMDB) que proibiu a circulação de kombis e vans de lotação em 11 bairros da zona sul da cidade. Seja dentro dos carros, presos nos grandes congestionamentos causados pelo aumento do número de carros nas ruas e por protestos contra a medida da prefeitura, ou nos pontos de ônibus cheios de passageiros à espera de condução, muita gente chegou atrasada aos compromissos. Apesar do anunciado reforço na frota de ônibus para atender à demanda, no início da manhã os coletivos que ligam as zonas oeste e norte à zona sul circulavam lotados – alguns com passageiros pendurados nas portas.

“Estou há meia hora esperando para pegar um ônibus para meu trabalho, na Barra (zona oeste). De van eu ia rapidinho. Não sei como fizeram uma coisa dessa. Bem se vê que eles não dependem de van ou ônibus para andar pela cidade”, reclamou a diarista Maria de Lourdes Alves da Silveira, de 59 anos, enquanto aguardava um ônibus num ponto na Rocinha, por volta das 7 horas. Também moradora da comunidade, a doméstica Tatiana Carvalho, de 32 anos, estava pensando em pegar dois ônibus (em vez de um direto) para chegar ao trabalho, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste. “Sem van está horrível. Os ônibus só passam lotados. Agora vou ter que gastar mais tempo e dinheiro para chegar”.

Para fiscalizar o cumprimento do decreto, publicado na última quinta-feira no Diário Oficial, a Prefeitura montou 24 pontos de bloqueio nas principais vias de acesso à zona sul e também em algumas ruas da região. Os motoristas que forem flagrados desrespeitando a medida serão multados em R$ 1.250,98 e terão os veículos apreendidos. Até o fim da tarde desta segunda, 15 vans e três ônibus em situação irregular foram apreendidos. Estes veículos, no entanto, não estavam na área abrangida pelo decreto. Nenhuma van de lotada foi flagrada circulando nesta segunda na zona sul.

Protesto

No início da manhã, cerca de 300 motoristas e cobradores que trabalham em três cooperativas de vans sediadas na Rocinha realizaram uma passeata que saiu da favela, seguiu pela Avenida Niemeyer (ligação entre São Conrado e Gávea), pela orla do Leblon, de Ipanema e Copacabana, e pelas ruas internas de Botafogo, até a sede da Secretaria Municipal de Transportes. Com faixas e cartazes pedindo ajuda até da presidente Dilma Rousseff, o protesto contou com um carro de som que dizia: “deixe a gente passar, nós estamos legalizados, só queremos trabalhar”.

O protesto terminou por volta das 15 horas, após o diretor da Coordenadoria de Transporte Complementar, Claudio Ferraz, aceitar marcar uma reunião com a categoria. Uma nova manifestação foi marcada para terça-feira, 16, às 13 horas, em frente à Camara dos Vereadores, no centro. Ferraz admitiu os transtornos ocorridos nesta segunda, mas disse que a situação vai melhorar no decorrer da semana. “Hoje foi uma situação atípica. Foi o primeiro dia de suspensão. Naturalmente será solucionado”.

Segundo Hélio Ricardo, presidente do Sindicato das Cooperativas de Transporte Coletivo do Rio, o decreto proibiu a circulação de 36 linhas de van pela zona sul. “Essas linhas são atendidas por 900 veículos, que transportam cerca de 270 mil passageiros. Cada van emprega cinco pessoas: um motorista permissionário, dois auxiliares e dois cobradores. Vai haver desemprego em massa, e a população voltará a ficar refém dos ônibus”. O Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio (Rio Ônibus), informou que cerca de 400 coletivos reforçaram a frota em 130 linhas para suprir a demanda.