Câmara tende a absolver o décimo mensaleiro

Roosewelt Pinheiro/ABr
Josias Gomes: o próximo da fila a ser inocentado.

Brasília (AE) – A menos de seis meses das eleições de outubro, a Câmara deverá inocentar, na próxima semana, o décimo deputado acusado de envolvimento com o esquema de caixa dois operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. O deputado Josias Gomes (PT-BA), o próximo a ser julgado por falta de decoro parlamentar, confessou ao Conselho de Ética e Decoro que recebeu cem mil reais do "valerioduto". O petista alegou que os recursos foram usados para saldar dívidas de campanha, em 2002, no Estado dele e tem grandes chances de ser absolvido, a exemplo do que aconteceu com outros nove deputados envolvidos com o "mensalão".

Depois das sucessivas derrotas no plenário da Câmara, os integrantes do Conselho de Ética resolveram apelar ao Ministério Público (MP). Na próxima semana, a cúpula do conselho reúne-se com o procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, para entregar os relatórios elaborados pelos relatores, que recomendaram, invariavelmente, a cassação do mandato dos deputados. Os parlamentares reconhecem que o papel do conselho não é o mesmo do MP. Mas têm esperanças de que o procurador proponha o indiciamento dos deputados apontados de envolvimento com o "mensalão".

Afinal, o procurador pediu a abertura de inquérito contra 40 envolvidos com o esquema de Valério, incluindo o ex-deputado José Dirceu (PT-SP) e o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), Luís Gushiken. Dos 40 pedidos, 13 referem-se a deputados ou ex-deputados, como é o caso de Roberto Jefferson (PTB-RJ). As absolvições de deputados patrocinadas pelo plenário da Câmara criaram uma crise no conselho. Dos 15 integrantes, cinco deixaram o órgão.

Além de Gomes, o deputado Vadão Gomes (PP-SP) é outro que tem grandes chances de ser salvo pelo plenário da Câmara e não ter o mandato cassado. Vadão Gomes é acusado de ter recebido R$ 3,7 milhões do "valerioduto". O parlamentar nega toda a acusação. O processo dele ainda está no conselho e deverá demorar a ser julgado pelo plenário da Câmara.

A situação mais delicada é a do deputado José Janene (PP-PR). Em licença médica desde dezembro, Janene também é acusado de ter recebido dinheiro de caixa dois de Valério. Apesar de contar com a simpatia dos colegas de Câmara, ele corre o risco de ter o mandato cassado. A análise do caso está bem atrasada.

A maioria dos 19 deputados envolvidos no escândalo do "mensalão" está impune. Os nomes foram enviados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios para o conselho há oito meses. Nove deputados foram absolvidos pelo plenário e quatro renunciaram aos mandatos. Apenas três – Dirceu, Jefferson e Pedro Corrêa (PP-PE) – tiveram os mandatos cassados.

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