Bustani vê uma campanha de difamação contra o País

Brasília – Ex-diretor da Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) e atual embaixador brasileiro em Londres, José Maurício Bustani, alertou o governo para uma campanha contra o Brasil na questão nuclear. Bustani foi pressionado pelos EUA a deixar a Opaq porque afirmou que o Iraque não tinha armas nucleares. E ele estava certo.

O alerta de Bustani é por conta da visita ao Brasil de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que chegaram ontem ao prédio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), no Rio, em meio à polêmica sobre a permissão para que vejam as unidades brasileiras de enriquecimento de urânio. Os técnicos da AIEA vão conhecer as instalações da Indústria Nuclear do Brasil (INB), em Resende. Eles vão verificar se é possível fazer a inspeção de acordo com a proposta feita pelo governo brasileiro na última reunião sobre o assunto, mês passado, em Viena.

O debate sobre o acesso dos inspetores às centrífugas já dura mais de um ano. No entanto, segundo Bustani, as notícias internacionais sobre o assunto não revelam declarações oficiais, mas deixam no ar a idéia de que o Brasil está fazendo algo errado. Bustani disse ter “a sensação de que há uma campanha de desinformação para constranger o governo brasileiro”. Segundo ele, “importantes interesses parecem incomodados com o fato de o Brasil, ao passar a enriquecer urânio em escala comercial, estar se tornando um país cada vez mais capacitado na área nuclear”.

O embaixador afirma que todas as iniciativas brasileiras seguem os princípios constitucionais, que proíbem atividades nucleares com fins militares. E acrescenta: “Nossas aspirações nucleares são legítimas e pacíficas e visam atender às necessidades de nosso extenso litoral, às demandas do desenvolvimento”.

Bustani explica que a unidade de Resende permitirá o enriquecimento de urânio em escala comercial, tornando o País autônomo na produção de combustível nuclear. Segundo ele, o Brasil poderá exportar o produto e quebrar o monopólio internacional na área. “Preocupa que o Brasil avance em seu projeto de propulsão naval, tornando-se o sétimo ou oitavo país do mundo a se dotar de um submarino nuclear, alcançando proeminência estratégica no Atlântico Sul”, afirma.

O embaixador acredita que “se a nossa tecnologia vazar, não apenas perderemos competitividade científica, técnica, comercial e industrial, como nossos intensos esforços de capacitação nuclear podem vir a ser retardados, como há décadas”.

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