Bolsa Família assusta a oposição

Criticada por todos os lados no início do governo, a política social já aparece como uma das principais bandeiras de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de reeleição em 2006. Sem alarde, o programa Bolsa Família avança e já atingiu a marca de 7,5 milhões de famílias atendidas. Em agosto, isso significou o repasse de R$ 488 milhões para quem vive nos grotões e na periferia das grandes cidades.

O impacto eleitoral do Bolsa Família assusta a oposição. Ainda mais porque o programa vai crescer muito até a eleição. Em dezembro, atingirá 8,7 milhões de beneficiados, chegando a 11,2 milhões ao fim de 2006. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, cada família atendida tem em média quatro pessoas. Em agosto, portanto, o Bolsa Família já atingia um universo de 30 milhões de pobres. Em 2006, serão cerca de 50 milhões.

Em termos de dinheiro, o valor total repassado em 2005 ultrapassará R$ 6 bilhões, se consideradas as transferências de programas remanescentes como o Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação, cujos beneficiários ainda migram para o Bolsa Família, a principal vitrine da política social de Lula.

O público-alvo são famílias com renda mensal per capita inferior a R$ 100 por mês. Justamente a faixa da população em que o presidente obtém os seus melhores índices de aprovação após a crise. Mais do que isso: nessa faixa da população é que foi registrada a menor queda na aprovação do governo após as denúncias de corrupção.

Na pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope em março, 39% da população com renda familiar de até um salário-mínimo consideravam o governo bom ou ótimo. Em setembro, esse percentual caiu apenas um ponto. A avaliação regular do governo caiu quatro pontos: de 37% para 33% e a ruim aumentou cinco pontos percentuais: passou de 20% para 25%.

Na população acima de dez salários-mínimos, a oscilação foi bem maior. A avaliação ótimo ou boa do governo caiu 23 pontos entre março e setembro, passando de 48% para 25%. Já a ruim subiu 24 pontos e foi de 20% para 44%.

"A relação é direta. Eleitores beneficiados pelos programas sociais são mais favoráveis ao governo", diz o presidente do Instituto Sensus, Ricardo Guedes.

Em dezembro de 2004, portanto antes do escândalo do mensalão, uma pesquisa do Sensus feita para a Confederação Nacional do Transporte (CNT) captou a predisposição pró-Planalto do eleitorado beneficiado pela rede de proteção social. O índice de aprovação do governo chegava a 73% entre quem era atendido, caindo para 62% no grupo de eleitores que nem mesmo conhecia os programas governamentais.

Goldman: a solução é tomar a bandeira do PT

Brasília – Líderes de oposição reconhecem o peso eleitoral do Bolsa Família na disputa pelo Palácio do Planalto e admitem que falar mal do programa não será o melhor caminho para ganhar votos em 2006. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, vai mais longe e diz que a oposição deve deixar claro que dará continuidade ao Bolsa Família. Até para evitar que o governo explore a idéia de que uma derrota do presidente Luiz Inácio Lula da Silva levaria ao fim do programa.

Articulador da pré-candidatura presidencial do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), Goldman acusa o PT de explorar eleitoralmente os programas sociais. Diz que o partido de Lula fez isso no ano passado, na disputa pela prefeitura de São Paulo, em relação a programas municipais. A distribuição da bolsa acaba funcionando como moeda de troca: ?Estamos lhe dando isso, você nos dê o voto?.  ?A ex-prefeita Marta Suplicy fez muito isso em São Paulo. Ela dizia que, se Serra ganhasse, iria acabar com o programa. As pessoas têm medo, ficam em dúvida. Em 2006, vão fazer a mesma coisa, não têm limite ético", afirma Goldman.

Ensaiando o discurso de campanha, o líder do PSDB lembra que o Bolsa Família foi criado a partir de programas iniciados no governo Fernando Henrique. O problema, raciocina ele, é que muita gente não sabe disso. Ainda mais que a população de baixa renda tem baixa escolaridade e menos acesso a informação.

O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), vê no Bolsa Família a ponte para Lula chegar ao segundo turno após a queda de popularidade provocada pelas denúncias de corrupção envolvendo o PT e o governo.

"Tendo perdido todas as bandeiras, o governo só tem uma âncora, que é esse negócio do Bolsa Família, um programa meramente assistencial. Terá algum impacto. Hoje a popularidade que Lula ainda tem nos grotões do Norte e do Nordeste se deve a esse programa", diz Aleluia. "O governo Lula é uma nau sem rumo ancorada neste programa. É suficiente para que ele possa tentar ir ao segundo turno, mas não deve garantir sua reeleição porque a indignação das pessoas que querem mudar o Brasil é maior", diz ele.

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