Aumento foi adequado e não há mais a caminho, diz Gabrielli

Um dia após o anúncio do aumento de 10% do preço da gasolina e de 15% do diesel nas refinarias, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, classificou como "adequado" o tamanho dos reajustes, em entrevista exclusiva à Agencia Estado, em Nova York. O executivo afirmou que não seria "correto" repassar ao mercado brasileiro aumento dos combustíveis em magnitude semelhante às elevações no mercado internacional. Segundo Gabrielli, a "eficiência" é a chave para não reajustar os preços no Brasil junto com a oscilação do petróleo no mercado internacional e garantiu que não há novas elevações a caminho.

Desde o último aumento de preços implementado pela Petrobras, em 2005, o petróleo teve escalada de US$ 60,00 por barril para mais de US$ 100,00 no mercado internacional, nas máximas atingidas no começo desta semana, chegou perto dos US$ 120,00. O executivo apontou que mais de 70% dos custos da Petrobras na área de produção de petróleo estão ligados ao preço da commodity no mercado externo, sendo que 50% de impostos seriam pagos a preços internacionais. Ao ser questionado se isto não justificaria que os reajustes no mercado brasileiro fossem mais freqüentes, Gabrielli emendou que "não necessariamente". "Significa que temos de ser mais eficientes.

Quanto à discrepância entre o forte avanço dos preços internacionais do petróleo e o nível dos aumentos anunciados ontem, o presidente da Petrobras acredita que, no caso particular do Brasil, "defasagem (de preços) é um conceito que precisa ser analisado a longo prazo". Para o País, "o ajuste de preços foi adequado na conjuntura atual", disse ele à AE, na sede da ONU, em Manhattan, onde estava reunido com outros 19 lideres da iniciativa privada, ONGs e sindicatos para o primeiro encontro de 2008 do Conselho-Diretor do Pacto Global, do qual faz parte.

Gabrielli fez questão de destacar que o aumento de preços foi uma "decisão comercial". Uma atividade normal da empresa, que define preços em função das condições do mercado e dos custos. "É uma decisão absolutamente normal, não tem nada de excepcional", afirmou. Segundo ele, como a empresa não alterava os preços da gasolina no Brasil por "muito tempo, provocou repercussão na sociedade". "Mas é uma atividade absolutamente normal em uma empresa, a de definir preços", reiterou.

Gabrielli, contudo, elogiou a equipe econômica, dizendo que "o governo agiu corretamente" para minimizar os impactos do aumento (às pressões inflacionárias), ao reduzir a cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) – na gasolina, a Cide cairá de R$ 0,28 por litro para R$ 0,18; no diesel, de R$ 0,07 para R$ 0,03 por litro. Com isso, acrescentou Gabrielli, "o aumento da gasolina não deve ter nenhum impacto para o consumidor e o impacto do diesel é muito pequeno no IPCA". O anúncio do aumento foi feito ontem horas depois da realização de uma reunião de Gabrielli com o ministro da Fazenda Guido Mantega.

Para Gabrielli, a política de preços da empresa "continua a mesma". "Não pretendemos fazer com que o mercado brasileiro seja um mercado que represente exatamente, a cada segundo, o que acontece no mercado internacional. Consideramos que a situação no mercado brasileiro é muito diferente da situação do mercado internacional", completou.

O executivo enumerou diferenças para justificar por que os preços domésticos não precisam acompanhar as variações internacionais. "No caso do Brasil, mais da metade do combustível para veículos leves não é gasolina. Temos um grande refinador, com grande número de distribuidoras. Portanto, é um mercado completamente diferente dos mercados internacionais. Temos ainda uma situação em que a empresa produtora de petróleo, a Petrobras, é a única grande empresa do mundo que tem a produção de petróleo associada ao refino e voltada, fundamentalmente, para o mercado nacional. (Estas) são situações especiais, pelas quais não consideramos correto tentar transferir para o mercado brasileiro qualquer flutuação no mercado internacional", acrescentou.

O presidente da Petrobras descartou a possibilidade de novos ajustes de preços próximos aos anunciados ontem. "Não vamos fazer novos reajustes. Nossa política é a política de acompanhar o longo prazo. Nós não mudamos nossa política", afirmou. De acordo com Gabrielli, os ajustes anunciados nesta quarta-feira refletem "uma mudança que consideramos que foi consolidada como um novo patamar de preços internacionais". "Ou seja, estamos mantendo a mesma política dos últimos cinco anos."

O Pacto Global foi proposto em 1999 e teve inicio em 2000, na gestão do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan. De acordo com Gabrielli, o Pacto conta com cerca de 5 mil participantes. O objetivo da iniciativa é lançar medidas concretas para que os países possam compartilhar de forma mais equilibrada dos benefícios gerados pela globalização.

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