Arte de Niemeyer é única na arquitetura moderna ocidental, diz professor da USP

São Paulo – A obra do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que completa cem anos neste sábado (15), é absolutamente lírica e única do ponto de vista da plasticidade. Essa é a opinião de Rodrigo Queiroz, professor-doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) e curador da mostra Coleção Niemeyer, inaugurada também neste sábado no Museu de Arte Contemporânea da USP.

Para Queiroz, Niemeyer incorpora uma nova expressão para a arquitetura moderna ocidental. ?A grande contribuição que Oscar Niemeyer traz para a arquitetura moderna ocidental é justamente reposicionar a dimensão plástica da arquitetura moderna, colocar o teor de liberdade em outra escala?, afirmou.

Essa seria a marca de Niemeyer desde o princípio, no projeto do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. ?E depois [em 1940] com Pampulha [em Belo Horizonte], talvez o conjunto arquitetônico mais importante da arquitetura brasileira, principalmente a Igreja de São Francisco de Assis, onde ele inaugurou a idéia de forma livre, que é tão cara à obra e ao discurso dele?, explicou.

De acordo com o professor, Oscar Niemeyer criou edifícios e monumentos ?que acabaram se tornando símbolos do Brasil e das cidades?. ?O pilar do [Palácio da] Alvorada está na bandeira do Distrito Federal, o Museu de Niterói é um logotipo da cidade de Niterói. Quer dizer, ele cria estes marcos urbanos. Isso é muito significativo na obra do Oscar?, avaliou.

Não há dúvidas, disse o professor, que Oscar Niemeyer figura entre os maiores arquitetos do século 20 e da arquitetura moderna: ?[Niemeyer] é um dos maiores artistas da arte moderna, um de seus maiores criadores. Tanto que o mundo celebra o centenário dele e o mundo está se voltando para o Brasil neste momento tão importante?.

Queiroz acredita que Oscar Niemeyer reinterpreta o legado ?racionalista? das vanguardas européias que lançaram a arquitetura moderna ocidental da primeira metade do século 20, como um movimento de reação ao classicismo e à academia. ?A figura do Oscar Niemeyer vai interpretar este legado, digamos racionalista, das vanguardas européias e dar um traço não só brasileiro, mas um traço poético da arquitetura moderna livre, a leveza de que ele fala tanto, a velocidade do traço, essa pureza que está na forma, no desenho, na paisagem?, acrescentou.

Entre os principais expoentes desses movimentos de vanguarda, estão a Staatliches Bauhaus, escola alemã de artes e arquitetura, que funcionou de 1919 a 1933, e arquitetos como o alemão (naturalizado norte-americano) Mies van der Rohe, norte-americano Frank Lloyd Wright e o francês Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido como Le Corbusier. Segundo o professor, Le Corbusier é tido como o mentor intelectual da arquitetura moderna brasileira.

Ainda de acordo com Queiroz, é preciso entender Oscar Niemeyer ?como uma grande escola e um grande legado para a cultura, a arte e a arquitetura brasileiras?. ?Acho que falta um pouco esse tipo de reflexão crítica sobre a obra do nosso maior artista, porque ela está o tempo inteiro encoberta pela imagem do gênio inspirado pelas curvas da mulher e das montanhas. O gênio que faz 2,5 mil projetos e trabalha há 63 anos. Não é possível que a gente não possa incorporar ou assimilar ou aprender alguma coisa do métier da produção da, arquitetura deste grande gênio?, completa.

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