Altos e baixos do governo Lula (I)

Predominam aspectos positivos nos primeiros seis meses de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que demonstrou extrema competência na composição do Ministério. Nas pastas do Desenvolvimento Econômico e da Agricultura colocou dois empresários conceituados e líderes em seus segmentos, Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues.

Para acalmar o mercado e o sistema financeiro nacional e internacional, nomeou Antonio Palocci no Ministério da Fazenda e o ex-banqueiro Henrique Meirelles para a Presidência do Banco Central, que adotaram política macroeconômica de profunda ortodoxia, elevando para 26,5% a taxa Selic de juros básicos da economia e aumentando para mais de 5% sobre o PIB o superávit primário, ultrapassando o percentual acertado com o FMI de 4,25%. Todos os contratos estão sendo cumpridos à risca.

Ao mesmo tempo, o presidente da República escolheu equipe comprometida com o ideário de sua campanha eleitoral, com realce para José Dirceu na Casa Civil, Luiz Dulci na Secretaria Geral da Presidência e Luiz Gushiken na Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica.

A personalidade forte de Dilma Rousseff no Minas e Energia garantiu inversão de rumos na área energética, com primazia de planejamento estratégico e fortalecimento das empresas estatais.

Miro Teixeira, nas Comunicações, esforça-se para corrigir os poderes excessivos das Agências Regulamentadoras. A participação de Ciro Gomes no Ministério da Integração homenageou o reconhecido brilhantismo do ex-adversário na disputa eleitoral.

Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça tornou presente o governo federal na efetiva luta contra a criminalidade, com o início de construção de presídios federais, ações integradas com os governos estaduais através do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e aprovação da lei sobre os crimes de colarinho branco e da lavagem de dinheiro.

O embaixador José Viegas Filho no Ministério da Defesa garantiu tranqüilidade e coesão nas Forças Armadas, apesar da penúria na liberação dos recursos orçamentários.

O presidente Lula está obstinado nos esforços para tornar lei as reformas tributária e da previdência, atraindo o apoio de todos os 27 governadores de Estado, que o acompanharam na entrega feita pessoalmente das propostas ao Congresso Nacional, gesto de respeito e consideração ao poder Legislativo.

O ponto alto da ação presidencial tem sido a política exterior, respaldada no acerto da escolha do embaixador Celso Amorim para o Ministério das Relações Exteriores. Privilegiando a Argentina para sua primeira visita, apoiando o governo constitucional do Presidente Chaves na Venezuela, fortalecendo o Mercosul e sua integração com os países do Pacto Andino, o presidente Lula está determinado em obter a união política e econômica da América do Sul, propiciando além dos benefícios em si condições de negociar a Alca com mais força perante os Estados Unidos.

Comparecendo e discursando no Fórum Mundial de Porto Alegre e, a seguir, na reunião das nações ricas em Davos, Suíça, Lula marcou presença do Brasil e da língua portuguesa nos fóruns internacionais, inclusive em encontro do G8 (EUA, Alemanha, Japão, França, Inglaterra, Canada, Itália e Rússia).

China, Índia, África do Sul, Rússia e países árabes (precisa acrescentar Japão) são objeto de intensa ação diplomática e de estreitamento das relações comerciais para diversificação de mercados.

O “programa Fome Zero”, embora com falhas de execução, tem sensibilizado e recebido aplausos da sociedade brasileira e de toda comunidade internacional.

No plano interno, elogiável foi a mudança de atitude do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), sob o comando firme do professor Carlos Lessa, que retomou as finalidades de sua origem, deixando de financiar firmas estrangeiras nos leilões de privatização – caso da inadimplente AES na aquisição da Eletropaulo – para priorizar empréstimos que realmente robusteçam a economia do país. Ademais, o BNDES está representando o papel inédito de conceder empréstimos à Argentina, Venezuela e Bolívia para realização de obras de infra-estrutura (a serem executadas por firmas nacionais) e compra e pagamento de produtos brasileiros.

Léo de Almeida Neves

ex-deputado federal (PMDB – PR) e ex-diretor do Banco do Brasil. Autor dos livros “Destino do Brasil: Potência Mundial, Editora Graal, RJ, 1995, e “Vivência de Fatos Históricos”, Editora Paz e Terra, SP, 2002.

Voltar ao topo