Aliados temem ser devorados pelo PT

Brasília – Preteridos na distribuição dos cargos federais e na liberação de recursos de emendas parlamentares, os aliados do governo Lula estão desconfiados de que serão canibalizados pelo PT nas eleições do ano que vem. "Temos que fazer o PT enxergar suas obrigações. Estamos apoiando o governo Lula e precisamos saber com o que vamos contar nas eleições", diz o líder do PMDB, José Borba (PR).  

Para os aliados do governo no Congresso, que vivem a angústia do esfacelamento da base, essa hora está demorando muito a chegar. Cobrado pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou a reunião da quarta-feira com líderes de todos os partidos, inclusive os de oposição, mais o presidente da Câmara e integrantes da mesa, para discutir as relações do governo com o Congresso. Alguns governistas estão apreensivos com o que pode acontecer num encontro que não foi combinado previamente e que terá entre seus participantes deputados da oposição e aliados embebidos em ressentimento. Se o PT quer a cabeça do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB), a escolha de um petista para substituí-lo não é garantia de pacificação da base. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, preocupado com as eleições do ano que vem e com as alianças nos estados, não simpatiza com a idéia de um petista na coordenação política. "Como pode alguém de um dos partidos da coalizão administrar os conflitos da coalizão? A coordenação política tem que ser feita por alguém que se coloque acima dos interesses dos partidos", observa o presidente do Senado. O chefe da Casa Civil, José Dirceu, que gosta de política e de vinhos, tentou esta semana disfarçar suas intenções citando versos de Chico Buarque: "Afasta de mim esse cálice". Mas seus aliados não têm dúvidas de que o ministro só está esperando que a coordenação política do governo volte para o seu comando.

Palanque

E as preocupações dos aliados têm razão de ser. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva só pensa na reeleição. A crise política com o Congresso se agrava, mas Lula está mesmo de olho no palanque de 2006, dedicando algumas horas de sua agenda a cuidar das alianças nos estados para as eleições do ano que vem. Lula está procurando seus aliados com o objetivo de criar condições para que ele tenha apenas um palanque na maioria dos estados.

Durante semana passada, fez este apelo ao ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PL), e ao governador do Amazonas, Eduardo Braga (PPS). Os dois são candidatos a governador e vão se reunir semana que vem para iniciar entendimentos. A conversa com Nascimento ocorreu na quarta-feira e a com Braga, na noite de quinta-feira. Por enquanto, eles evitaram assumir compromissos com o presidente. Braga é cuidadoso ao tratar do assunto.

"O presidente quer um palanque em cada lugar. E disse que fará todo esforço para que isso ocorra na maioria dos estados", limitou-se a dizer.

Presidente quer PT com Requião no Paraná

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, pelos informes que recebeu do presidente do PT, José Genoino, os petistas do Amazonas estão dispostos a negociar uma ampla aliança para garantir que os aliados do governo tenham um único palanque no estado. Lula comentou, nessas conversas, que o apoio à sua candidatura vai depender de como estiver a avaliação de seu mandato no primeiro semestre de 2006.

Esta não é a única situação em que Lula e a direção do PT trabalham para tentar unir, nos estados, a base que apóia o governo no Congresso. Até em situações dramáticas para o seu partido, o presidente tem defendido que o PT apóie e faça uma chapa conjunta. Defende essa aliança com os governadores peemedebistas Roberto Requião (Paraná) e Luiz Henrique da Silveira (Santa Catarina).

Lula também já deu sinais de que quer uma aliança para apoiar a candidatura do senador Maguito Vilela (PMDB) para o governo de Goiás, onde o PT foi derrotado nas eleições municipais. Ele também gostaria que o PT e os aliados se entendessem no Mato Grosso do Sul, em Mato Grosso, no Espírito Santo, na Bahia, em Minas, em Alagoas, na Paraíba, no Ceará, no Pará e no Piauí. Mas sabe que não tem como evitar a disputa no Rio Grande do Sul, em Pernambuco, no Rio e no Distrito Federal.

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