Aliados insatisfeitos com o Planalto

Brasília – Mais do que alarmar o governo, a denúncia do líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por crime de responsabilidade, serve para mostrar a insatisfação dos aliados e a desarticulação política da administração federal no Congresso. "Não consigo enxergar nenhuma articulação do governo para reorganizar sua base", lamentava ontem o líder do PL na Casa, Sandro Mabel (GO), preocupado com o destino dos projetos de interesse do Poder Executivo no Legislativo.

Na avaliação de líderes dos vários partidos aliados e até de alguns petistas, o episódio da derrota do PT e do Executivo na disputa pela presidência da Câmara não serviu de lição ao Palácio do Planalto. Eles queixam-se de que o Planalto segue a vida, ignorando acordos e sem cumprir velhas promessas, seja de nomeações ou liberação de recursos para atender emendas dos parlamentares ao Orçamento da União. "A diferença, agora, é que as bancadas ficaram todas valentes e as rebeliões internas estão se multiplicando. Todo mundo está apostando que o novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), vai dar um tranco no governo", adverte Mabel.

Segundo outro importante líder da base governista, bancadas estão "soltas" e, pior, a administração federal não toma providência alguma para manter o comando da tropa. Ele afirma que há dificuldades em várias legendas da base e que uma das situações mais graves hoje é a do PTB. De acordo com o líder, o PTB está "esfacelado" por causa das promessas de cargos ignoradas ou que o Poder Executivo apenas fingiu cumprir, desviando a gerência do cofre e outras atribuições importantes dos petebistas nomeados para petistas ligados ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Não é por acaso que Severino anunciou que não tem pressa de decidir se acata ou não a denúncia de Goldman que dá margem à abertura de um processo de cassação por abafar acusação de corrupção da gestão anterior. "O Severino não é bobo, não: ele vai surfar na onda que lhe é favorável e gastar tempo ouvindo o presidente Lula e as lideranças partidárias antes de decidir", diz o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).

Ontem, o presidente da Câmara deu claros sinais de que está indeciso e de que tem sido muito pressionado no caso da representação do líder do PSDB na Câmara. Primeiro, disse que resolverá "nessa ou na próxima semana" se abre o processo. Em seguida, afirmou que, "talvez, dentro de três ou quatro horas", poderia dar uma posição, e arrematou: "Eu não botarei na gaveta".

Adiada decisão sobre ação do PSDB

Brasília  – A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), sobre a representação do PSDB contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi adiada. Severino disse que, em virtude da sua agenda, ainda não analisou a representação. "Eu não vou resolver nada agora, na bucha. Tem muito tempo para resolver", disse. Pela manhã, o deputado comentou que resolveria o tema ainda ontem.

O presidente da Câmara revelou que vai solicitar à assessoria jurídica da Casa parecer sobre a denúncia do PSDB contra o presidente da República. Depois disso, garantiu que ainda vai ouvir as duas partes envolvidas: o presidente Lula e o autor da denúncia, o deputado Alberto Goldmann (PSDB-SP).

O ministro de Coordenação Política, Aldo Rebelo, disse que Severino Cavalcanti deve emitir o seu parecer "no momento que julgar adequado" por se tratar de uma decisão pessoal. O argumento do governo federal sobre o caso, segundo o ministro, vai estar de acordo com o que for questionado pelo presidente da Câmara. "O presidente Severino  ouve quem ele desejar, quem ele julga importante. É um direito do presidente da Câmara. Nós vivemos em uma democracia", disse.

Na avaliação de Aldo Rebelo, a democracia pressupõe a existência de conflitos entre o governo e a oposição. "E nesse conflito, nem sempre as regras são seguidas. O lógico é que fosse o jogo entre dois times, mas há faltas, há jogadas que não são bonitas, e isso a opinião pública tem que julgar", enfatizou Rebelo.

Na semana passada, o deputado Alberto Goldman protocolou denúncia com o objetivo de instaurar na Câmara dos Deputados processo contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por crime de responsabilidade.

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