Alexandre e Anna Carolina passam o dia com os filhos

Após 17 horas de interrogatório, este sábado (19) foi dia de descanso para o casal Alexandre Nardoni, de 29 anos, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, de 24 – pai e madrasta da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, morta no dia 29 de março. Eles foram indiciados por homicídio doloso triplamente qualificado. O casal deixou o 9º Distrito Policial (Carandiru) às 4h37 da madrugada deste sábado (19) e seguiu para a casa de Alexandre Peixoto Jatobá, pai de Anna Carolina, em Guarulhos, onde estão os dois filhos do casal, Pietro, de 3 anos, e Cauã, de 1 ano.

Alexandre e Anna Carolina chegaram a Guarulhos pouco depois da 5 horas e, durante toda a manhã, permaneceram em casa. A única movimentação no prédio foi às 9h20, quando o zelador do edifício retirou todos os cartazes de protestos contra a morte de Isabella que estavam no local. Um deles dizia: "A Justiça vai ser feita." Quando questionado sobre o ato, o funcionário somente respondeu: "O síndico mandou." O zelador só não teve como evitar a manifestação das pessoas que passavam pela rua e gritavam por justiça. "Onde está a assassina?", bradou uma mulher de dentro de seu carro.

Assim como a chegada do casal ao 9º DP já havia sido tumultuada, na manhã de sexta-feira (18), a saída, na madrugada deste sábado (19), não foi muito diferente – havia apenas 40 curiosos, mas a segurança seguia reforçada.

Às 4h37 deu-se a movimentação final do Grupo de Operações Especiais (GOE) à espera da saída do casal. A postos, os homens do GOE deram cobertura ao Vectra conduzido pelo avô de Isabella, Antônio Nardoni, onde Alexandre, de camiseta branca, e Anna Carolina, de blusa vermelha, entraram apressados, às 4h40, após saírem pela porta lateral do distrito. Em disparada, um minuto depois, partiram para a casa dos pais da madrasta, em Guarulhos, sem escolta policial.

Antônio Nardoni deixou o casal no prédio do pai de Anna Carolina e ficou lá por menos de dez minutos. Apesar de o casal estar hospedado em Guarulhos, a rua em que Antônio mora, no Tucuruvi, zona norte de São Paulo, estava interditada. Na madrugada deste sábado (19), um homem quase foi preso por desacato, ao discutir com um soldado da PM por causa de cavaletes e faixas que bloqueavam o acesso à rua.

A Secretaria de Segurança Pública informou que o casal e os advogados receberam a orientação para que solicitassem e aceitassem a proteção do GOE. Na manhã de sexta-feira (18), recorreram à ajuda policial para chegar à delegacia. Na madrugada, no entanto, dispensaram a escolta. Para isentar a polícia de eventual acusação de omissão, o escrivão redigiu um documento, diante de duas testemunhas, no qual expressou a oferta e a recusa de proteção.

Atrás do Vectra, seguiu apenas um veículo, com um segurança da JM-Seg, empresa contratada pela família Nardoni. Em seguida, os advogados deixaram o DP em outro carro.

O depoimento de Anna Carolina, que teve início às 20 horas, terminou à 0h50. Durante o interrogatório, a madrasta não chorou nenhuma vez. As quase cinco horas de depoimento resultaram em 13 páginas para o inquérito. Advogados e indiciados só deixaram o DP quase às 5 horas da madrugada porque tiveram de ler e reler as páginas e mais páginas do interrogatório da madrasta, somadas às outras 20 páginas do interrogatório de Alexandre.

Diferentemente da mulher, o pai chorou ao falar de Isabella, em depoimento com início às 11h30 e término às 20 horas. Enquanto Anna depunha, ele ficou isolado, assistindo à TV, na companhia de um advogado e um investigador.

O promotor Francisco José Cembranelli foi um dos primeiros a deixar o DP, à 1h46, sem falar com a imprensa. Às 2h41, o delegado-titular do 9º DP, Calixto Calil Filho, deixou o local, também sem dar declarações.

Santo Expedito

Devota de Santo Expedito, Rosa Cunha – mãe de Ana Carolina Cunha de Oliveira e avó de Isabella – esteve na manhã deste sábado (19) na festa para o santo na Capela das Graças de Santo Expedito e do Sagrado Coração de Jesus, no Jaçanã, zona norte. O evento, realizado todo ano no dia 19 de abril – dia do santo das causas justas e urgentes -, dessa vez também virou homenagem a Isabella, com pessoas vestidas com camisetas com a foto da menina e bandeirinhas com os dizeres: "Isabella estará sempre no ?Cantinho da Alegria? (nome do colégio onde estudava)."

Por volta das 9h30, Rosa apenas entrou na capela, foi em direção às imagens de Santo Expedito e do Sagrado Coração de Jesus, e se retirou, com medo do assédio da imprensa. Mais tarde, por volta das 11 horas, ela, o marido, José, e o filho Felipe foram chamados pelo padre Luiz César Bombonato a subir ao altar montado no lado de fora da igreja para participar da oração feita para Isabella. Estavam com Masataka Ota (pai de Yves Ota, menino seqüestrado e morto aos 8 anos, em 1997).

Depois, o padre conversou separadamente com a família de Isabella e deu de presente a Rosa uma imagem de Santo Expedito. Rosa pediu que o padre reze pelas famílias de Alexandre Nardoni e de Anna Carolina Jatobá.

De volta para casa, perto do meio-dia, Rosa e José não quiseram comentar nada sobre a morte da neta. "Nós não achamos nada", disse a avó de Isabella. Ela carregava a imagem que tinha ganho de presente.

O padre, em sua oração, pediu pela alma de Isabella e por "tantas crianças no Brasil vítimas da violência, da dengue e do descaso".

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