Alencar diz que libera a Defesa

Rio – O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, disse ontem que não ficaria surpreso em deixar o cargo de ministro na reforma que deverá ser anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana que vem. Alencar lembrou, entretanto, que não há impedimento para continuar à frente do ministério. ?Eu já disse que meu perfil é inadequado para a Defesa, porque minha cultura é empresarial e eu não entendo desses assuntos. Eu tenho tido a colaboração e a solidariedade dos comandantes das três Forças Armadas, mas não tenho a pretensão de ser ministro da Defesa?, afirmou Alencar. ?Eu não sou ministro, eu estou ministro?, enfatizou.

Enquanto isso, o governo deixou para o início da próxima semana a conversa com o PP para definir a participação do partido na reforma ministerial. Segundo o presidente do partido, deputado Pedro Corrêa (PE), o ministro da Casa Civil, José Dirceu, telefonou para ele ontem para discutir o assunto. ?Disse ao ministro que estava viajando e deixamos para falar sobre isso a partir de segunda à noite?, disse o deputado, por telefone, de Salvador. O PP busca uma participação de prestígio na reforma. Reivindica um ministério de grande porte no governo Lula. Usa como barganha o fato de ter a presidência da Câmara dos Deputados, com Severino Cavalcanti (PE).

Corrêa voltou a dizer que o partido não vai aceitar qualquer proposta e que pode ficar fora da reforma se o que for oferecido não agradar a bancada do PP no Congresso. ?Qual o problema em ficar fora? Já temos a presidência da Câmara?, disse. ?Se o governo oferecer alguma coisa, vamos levar para a bancada analisar e aprovar ou não o ministério?, afirmou. O presidente do PP evitou comentar as possibilidades de o partido assumir, por exemplo, o Ministério das Comunicações. ?Não dá para dizer o que preferimos. Quando você vai almoçar na casa de alguém, come o que está na mesa?, disse. Mas pode dizer não, também? ?Sim, claro?, responde.

As especulações sobre a reforma, aliás, começam a provocar ciúmes na base aliada. Corrêa começa a reclamar do tratamento especial que o PMDB vem recebendo do presidente Lula. ?Por que o PMDB vai ficar com três ministérios e alguns partidos apenas com um??, indaga. Lula vem procurando agradar ao PMDB em prol de uma aliança eleitoral em 2006. O partido ocupa hoje dois ministérios: Previdência Social, com Amir Lando, e Comunicações, com Eunicio Oliveira. Cogita-se que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) possa substituir Lando.

Já Eunicio tem sempre o nome lembrado para deixar o cargo, mas não o governo. Algum nome do quadro do PP e a senadora Roseana Sarney (PFL) seriam os favoritos para as Comunicações. Mas dependeria da saída de Eunicio para alguma outra pasta como, por exemplo, a Integração Nacional, hoje ocupada por Ciro Gomes.

Apoio e participação

São Paulo – O chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República, Aldo Rebelo, justificou ontem, em São Paulo, a reforma ministerial a ser realizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que não há sentido em um partido apoiar o governo sem participar dele. Na avaliação de Rebelo, que pode deixar a secretaria, o País não pode ter legendas de primeira e segunda categorias, que seriam as que apóiam a administração federal e participam dela, e as que dão apoio e não têm cargos. ?A reforma tem como objetivo dar mais eficiência e estabilidade à base política, que dá sustentação ao governo?, afirmou ele, que teve uma reunião-almoço com empresários do setor de máquinas e equipamentos.

Rebelo afirmou que a necessidade do País é uma ampla união de forças políticas, sociais e econômicas para superar os desafios nessas mesmas áreas. ?O Brasil precisa ter um governo que represente essa união de forças e que tenha um diálogo respeitoso com a oposição. Mas o governo também precisa de maioria para governar?, afirmou.

O chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República ressaltou que as forças políticas no País são heterogêneas e que isso precisa ser respeitado. Rebelo mencionou, por exemplo, o fato de que, nas últimas eleições legislativas, nenhuma legenda obteve mais de 20% dos votos. O PT e o PMDB alcançaram uma média de 17% dos votos. ?Isso é quase um clamor do eleitor para que se respeite a diversidade para dar sustentação ao governo?, reforçou.

Rebelo lembrou ainda que a composição do governo de São Paulo é pluripartidária, mas que isso não representa qualquer anomalia, apenas a necessidade de uma constituição heterogênea que assegure a governabilidade. ?O País é desequilibrado em muitos níveis?, opinou.

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