Absolvição sinaliza que Câmara poderá livrar outros deputados

A absolvição do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) sinalizou que a Câmara poderá livrar outros deputados que respondem a processo de cassação por suposto envolvimento no esquema do "mensalão" e revelou, segundo líderes partidários, um acordão entre os partidos acusados de terem se beneficiado com o caixa dois montado pelo ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT Delúbio Soares e pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

A derrota acachapante no plenário do parecer do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa que pedia a cassação de Queiroz animou deputados acusados. "Abriu-se a porta da esperança", era o comentário dos parlamentares que acompanharam o julgamento no plenário. Ele foi o primeiro deputado a ser julgado da lista de outros 11 processados por denúncias semelhantes.

O presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, Ricardo Izar (PTB-SP), admitiu que alguns dos acusados poderão se beneficiar no plenário depois da decisão sobre Queiroz, incluindo nessa relação os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e Roberto Brant (PFL-MG).

"É claro que estou mais aliviado", afirmou um dos parlamentares que respondem a processo de nulidade de mandato na Casa. Na avaliação dele, o caso do deputado do PTB reunia todos os símbolos do escândalo: ele mandou um assessor pegar dinheiro, recebeu dinheiro de uma empresa de Valério e teve recursos depositados na conta bancária. "Isso demonstra que a Casa está construindo um conceito", afirmou um deputado processado.

Queiroz admitiu que o assessor do partido em Minas Gerais, presidido por ele, pegou R$ 350 mil da conta da agência de publicidade SMP&B, do empresário. Além disso, Queiroz afirmou que recebeu R$ 102 mil da Usiminas com a intermediação da agência de publicidade. Desse último valor, R$ 50 mil foram parar na conta dele. Na defesa, Queiroz afirma que não usou o dinheiro e que todas as verbas foram para campanhas de candidatos da legenda.

Para livrar o deputado, uma grande articulação política partidária foi montada. Somaram-se a isso a conveniência dos deputados acusados de diferentes siglas, a pressão regional e o corporativismo.

Deputados do PP, PTB, PL e PT, principalmente, trabalharam, intensamente, pela absolvição do deputado em troca de verem absolvidos os parlamentares que também respondem a processos de perda de mandato.

Além disso, a influência de Queiroz na política no Estado fez com que muitos políticos mineiros o defendessem. Um dos fatores apontados por esse resultado tão favorável a Queiroz foi também a atuação do ministro dos Transportes, Walfrido Mares Guia.

Na véspera do julgamento no plenário, Guia despachou com quase 40 deputados na sala da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara, que é presidida pelo deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP), enquanto que, no recinto ao lado, o deputado mineiro pedia os votos pela absolvição.

Ontem, o ministro do Turismo comemorava. "O Congresso fez justiça", afirmou, depois de deixar a Comissão de Infra-estrutura do Senado, onde acompanhou a sabatina de quatro indicados para a direção da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). "Eu o conheço há 35 anos e sei que ele não tirou nenhum tipo de vantagem de nenhuma natureza", defendeu.

No PT, uma tropa de choque formada por deputados que estão sob a mira da cassação e aliados procurou petistas e parlamentares de outras agremiações para convencê-los da necessidade de absolver Queiroz. O deputado petebista calculou 50 votos do PT a favor dele no plenário, mais da metade da bancada de 82 deputados.

"Ficou claro que houve um acordão entre os partidos acusados com o governo para dizer que não houve o ‘mensalão’ e absolver os deputados", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). Goldman referiu-se ao PP, PTB, PL e PT. "Cabe agora a gente destruir essa grande pizza", afirmou.

Para o líder do PFL na Casa, Rodrigo Maia (RJ), a "porta esperança" dos deputados acusados se fechará com a pressão da sociedade e da imprensa. "Quem imagina que haverá jurisprudência se esquece que desse jogo participam a sociedade e a mídia", concluiu.

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