Brasil pode mediar crise política boliviana, afirma Celso Amorim

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, indicou que o Brasil está disposto a intermediar o diálogo entre o governo de Evo Morales e os setores da oposição boliviana, desde que seja chamado a essa tarefa. Depois de ter recebido o chanceler boliviano, David Choquehuanca, Amorim disse que espera ver o conflito político da Bolívia ser resolvido por meio do diálogo – uma indicação de que o governo brasileiro não pretende assistir a novos impulsos autoritários no país vizinho.

"Temos mantido uma boa relação com o governo boliviano e não queremos interferir em questões internas da Bolívia. Mas sempre estamos abertos ao diálogo. Sempre que pudermos ajudar em algo, nós ajudaremos, dependendo de haver uma manifestação de desejo nesse sentido", afirmou. O Itamaraty observa com preocupação o aumento da tensão entre os setores opositores e o governo Evo, que se mostra também pressionado a cumprir promessas eleitorais feitas aos movimentos populares. O conflito aprofundou-se desde que o governo passou a interferir nos processos de decisão da Assembléia Constituinte, convocada pelo próprio Evo. Além disso, quatro departamentos (Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando) exigem autonomia política em relação ao governo central.

Os governadores desses quatro departamentos redigiam nesta segunda-feira (18) um projeto autonomista que será submetido a referendo caso a Assembléia Constituinte, instalada em Sucre, não inclua na nova Carta um sistema de autonomia que considerem adequado. Na sexta-feira, líderes das quatro regiões promoveram manifestações maciças para exigir mais independência em relação ao poder central, de La Paz, e forçar Evo a desistir da intenção de aprovar por maioria de 50% mais 1 os artigos da nova Constituição. A oposição exige a adoção da maioria de dois terços. Na manifestação de Santa Cruz, mais de 1 milhão de pessoas participaram do ato pró-autonomia, segundo os organizadores. Hoje, os líderes dos quatro departamentos estavam reunidos em Tarija.

Em La Paz, Evo anunciou que promoveria uma investigação sobre o enriquecimento repentino de políticos do país e convocou o Congresso a aprovar um projeto de lei enviado pelo Executivo que monitora o patrimônio de funcionários públicos – de ministros a diretores de entidades do Estado. "Por que não pode haver uma investigação de fortunas suspeitas? Por que o sigilo bancário não é flexível nesses casos?", questionou Evo.

Também hoje, simpatizantes dos dirigentes cívicos, que lutam pela autonomia da região boliviana de Santa Cruz, incendiaram nesta segunda-feira dois mercados pertencentes à comunidade indígena do interior do departamento (Estado), no município de San Miguel de Velasco. Segundo o prefeito local, Pedro Dorado, os agressores são membros da União da Juventude Cruceña, grupo ligado a entidades pró-autonomia. Armados com pedaços de paus, pedras e gasolina, os membros do grupo tentaram agredir os proprietários dos estabelecimentos, que tiveram de fugir. O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, disse que o governo ordenou o envio de mais policiais à área "para conter estes fatos intoleráveis de violência e vandalismo".

Voltar ao topo