Botijão vilão

Nem coxa de frango, nem polenta frita. O vilão da economia doméstica atual é o botijão de gás de cozinha ou, como também é conhecido, GLP. Desde os tempos da URV que deu partida ao Plano Real até agora, de menos de cinco reais a unidade envasilhada pulou para cerca de trinta reais inflacionados. E promete subir mais, pelos canos, tubos e acendedores dos fogões e dos índices eleitorais. Para não parecer que está de braços cruzados, o governo ameaça: se subir, vem teto máximo de preço, nome mascarado para um tabelamento sempre evitado. Se não tem concorrência na prática, terá que haver na marra.

O terror foi desencadeado pelas conjecturas do Banco Central. Só no primeiro trimestre do ano, o GLP teve aumento de 32% nos preços, seis vezes mais que a meta inflacionária, driblada também pelos preços administrados (outro sinônimo que mascara os contratos feitos e controlados pelo governo). O BC achava razoável que o botijão subisse, em todo o ano de 2002, no máximo 28%. Devido ao descontrole, agora já trabalha com 42%. E teme o pior.

Especialistas ligados ao setor acham que não será possível ao governo o uso da Agência Nacional do Petróleo, ou de qualquer outro órgão seu, para policiamento dos preços do gás – como de qualquer outro combustível. Não porque o produto seja volátil, mas porque essa atribuição do governo, antes exercida através dos ministérios das Minas e Energia e da Fazenda, terminou dia 31 de dezembro último, quando findou o período de transição para a abertura do setor. Agora, caberiam apenas denúncias aos órgãos de defesa da concorrência. Que freqüentemente costumam dar em nada.

O governo nega que tenha interesse político, melhor, eleitoreiro sobre a matéria. Mas o ministro Francisco Gomide, das Minas e Energia, está convencido (e convenceu também o presidente Fernando Henrique Cardoso) de que “há um problema específico e temporário de preços que vêm sendo praticados, talvez de forma abusiva”. O “temporário” trai a motivação tempestiva. A resposta veio rápida, como se estivesse antes tudo combinado. Se houver necessidade, disse FHC, o governo vai intervir, sim. Chegou a hora – disse e sentenciou ele – de a ANP “assumir papel mais ativo” na regulação dos preços. Mas a ordem presidencial restringe-se apenas ao gás de cozinha, componente mais sensível, eleitoralmente falando, da família dos derivados de petróleo. Afinal, quem controla o botijão são as donas de casa.

Dias atrás comentamos aqui acerca do estrago que estão causando no bolso do contribuinte os chamados preços administrados. Observamos que, no oitavo aniversário do Plano Real, o que não deu certo foram exatamente as tarifas e serviços públicos – além dos impostos, taxas e contribuições – ditados e/ou controlados pelo governo. Passagem de ônibus, conta de telefone (assinatura e impulsos), correios, energia elétrica e custas processuais e taxas de cartórios – tudo subiu bem mais que a inflação. Em outras áreas, o descontrole veio de carona na maquiagem de produtos, na redução de embalagens, na substituição de ingredientes. Que fará o governo nessa arrancada pela sucessão em desespero? Colocará em tudo um teto máximo até a abertura das urnas?

Voltar ao topo