Boom da Bolsa

No início da década de 70, a Bolsa de Valores brasileira, então dividida em dois pregões principais, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, teve um ?boom? espetacular, seguido de um ?crack? que levou muita gente a incontáveis prejuízos. O motivo do espetacular movimento ascendente e depois descendente da década de 70 foi indubitavelmente a especulação.

Desde então, as aplicações dos brasileiros têm sido mais no mercado financeiro, enquanto o bursátil, embora com alguma expressão, tenha se mantido numa segunda linha nos investimentos dos poupadores nacionais e estrangeiros. A primazia do mercado financeiro chegou a criar o hábito de os meios de comunicação chamarem os negócios de Bolsa de financeiros, quando na verdade estão inseridos no mercado de capitais.

A consultoria Economática revelou por esses dias que o lucro somado das 257 empresas brasileiras de capital aberto, ou sejam, as que têm negociação de ações em Bolsa de Valores, durante o ano de 2007 teve o melhor desempenho desde o início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O ganho dessas companhias dobrou sobre o registrado no início da gestão do atual presidente.

A notícia é boa e seria ótima fossem de outro perfil as empresas cujas ações revelaram uma valorização assim expressiva. É boa porque, no regime capitalista democratizado ou que outro nome se queira dar ao sistema econômico no qual vivemos, o mercado acionário, por carrear recursos para as empresas, gerando lucros, impostos, produção e empregos, deve preferentemente ser mais expressivo que o financeiro, geralmente crescente em períodos de especulação. Nestes períodos, capitais internos e especialmente externos pousam em nossa economia para recolher seus frutos, os juros, e bandear-se para onde ofereçam melhores resultados imediatos.

Segundo a Economática, em 2007 o lucro somado das companhias abertas brasileiras atingiu R$ 123,7 bilhões, verificando-se um crescimento de 20,16% sobre 2006, quando esse lucro foi de R$ 102,9 bilhões. No período todo em que Lula está no governo, a alta sobre o lucro de 2003, que foi de R$ 61,643 bilhões, já atinge 100,76%.

O perfil desse mercado é que deixa a desejar. Em primeiro lugar, o número de companhias de capital aberto é demasiado pequeno levando-se em conta o tamanho, a população e as dimensões da economia brasileira. Há concentração, pois são poucas as companhias de capital aberto cujas ações são negociadas no mercado bursátil.

O perfil dessas empresas, notadamente suas finalidades, também chama atenção. Mais uma vez os bancos se sobressaíram na divisão dos setores, o que já ocorreu nos anos anteriores. O lucro das instituições financeiras foi o maior em 2007, com R$ 28,741 bilhões. A seguir aparecem os setores de petróleo e gás, mineração, energia elétrica, siderurgia e metalurgia e telecomunicações. Vários desses setores são estatizados e trabalham sob monopólios. E todos são de infra-estrutura, com capital não pulverizado, salvo no mercado secundário onde suas ações constituem as principais ações da Bolsa, as ?blue chips?. Dois setores analisados apontaram prejuízos no ano: têxtil e agro e pesca, com perdas de R$ 5 milhões cada.

O levantamento da Economática, embora revele dados positivos, mais o seriam se mostrasse um quadro em que empresas de outros setores produtivos nacionais, geradoras de empregos e riquezas e principalmente de bens e serviços para o dia-a-dia do brasileiro, como alimentos por exemplo, também apresentassem recordes.

O levantamento realizado, na verdade, denuncia que, no Brasil, o melhor negócio ainda é a especulação financeira, tanto é que os bancos e instituições financeiras sobressaíram-se na oferta de lucros no período examinado.

E o segundo melhor negócio continua sendo o petróleo.

Voltar ao topo