Bonecos encantam público no Festival Internacional de Londrina

Basta uma batida de olhos na programação deste sábado (11) do Festival Internacional de Londrina – que começou no dia 3 e termina no dia 19 – para se ter idéia da diversidade cultural envolvida. No palco do Teatro Ouro Verde, o maior da cidade, a coreógrafa Maureen Fleming, japonesa radicada nos EUA, apresenta o espetáculo "After Eros", que tem entre suas fontes de inspiração o mito de Eros e Psiquê e a linguagem do butô. Numa atmosfera bem mais intimista, sob um tablado na Casa de Cultura, os atores Roberta Carreri e Jan Ferslev apresentam "Salt," montagem baseada no romance epistolar "Está Ficando Tarde Demais", de Antonio Tabucchi. Trata-se de uma criação do renomado grupo dinamarquês Odin Teatret.

O Brasil não ficou de fora e na noite de amanhã (11) marca presença com sua diversidade cultural. De Fortaleza (CE), vem o grupo Cabauêba para apresentar Linha Férrea, livre adaptação da obra de Tércia Montenegro, contista cearense. Sob direção de Hebe Alves, quatro atrizes de Salvador prometem apresentar uma versão autoral de Valsa n.º 6, de Nélson Rodrigues, no espetáculo Insônia.

Os gaúchos do grupo Cia. Caixa do Elefante, de Porto Alegre, levam sua arte ao povo, apresentando ao ar livre, meio-dia, numa movimentada praça da cidade o seu divertido teatro de bonecos em Histórias da Carrocinha. No Circo Funcarte ainda há espaço para o grupo local. Sob a lona, a londrinense Cia. Fuleira de Patifaria Teatral apresenta Precioso Mistério Contado em Pedacinhos. Para fechar a noite, tem show de Ângela Ro Ro no Cabaré, um barracão transformado em espaço cenográfico, espécie de instalação gigantesca que abriga os shows musicais que encerram a programação.

Até agora, a maior parte da programação vem apresentando a qualidade anunciada. Ontem, sob constantes aplausos em cena aberta, os artistas peruanos Hugo Suãrez e Inês Pasic encantaram o público londrinense com a sua inusitada arte: a criação de bonecos a partir de partes de seu corpo, no espetáculo Cuentos Pequeños.

Vestido de negro, Hugo senta-se sobre um tablado mínimo, no centro do palco. Dobra uma de suas pernas, levanta a calça até o joelho e, sobre ele, coloca um nariz de palhaço. Veste então uma camisa na mesma perna, enfia os braços nas mangas dela e pronto: ganha vida um simpático senhor careca. É sabido que a arte do manipulador apenas começa na feitura de um boneco. Dar vida a ele exige muito mais do que gestos. O segredo está em dar-lhe alma, personalidade. E nisso Hugo e Inês são mestres, daí o encantamento desse espetáculo, feito de 15 quadros, 15 diferentes bonecos, bem originais na forma.

Por exemplo, é entusiasmado, simpático e ingênuo o careca criado a partir do joelho. Ele coloca um chapéu na sua frente, pega uma pequena guitarra e toca euforicamente. Como qualquer artista de rua, comemora seu ganho ao conferir o conteúdo do chapéu. Ocorre que Hugo, seu manipulador, consegue enganá-lo por segundos e rouba-lhe o dinheiro. Desolado, sem perceber quem o roubou, começa tudo novamente. Por segundos, esquecemos estar diante de boneco e manipulador e rimos condoídos do patético da situação.

Inês não fica atrás na criação de um gulosa moçoila que não pára de enfiar guloseimas na boca – o umbigo da atriz, já que essa boneca tem como rosto a sua barriga. Ao tentar entrar num maiô ela percebe que algo está errado. Sobe então numa balança e tem um ataque histérico com o que vê. Decide então fazer exercícios. São assim, feitas de sintéticas e bem elaboradas dramaturgias esses quadros. O envelhecimento de um boneco, a arte de uma criança que brinca de bola são outros momentos com que a dupla talentosa presenteou o público de Londrina. É torcer para que voltem ao Brasil em breve.

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