BC vê inflação abaixo da meta e mercado espera queda mais rápida dos juros

Brasília (AE) – O Banco Central reduziu de 3,7% para 3,5% a projeção de inflação para 2006 e reforçou as apostas dos analistas do mercado financeiro de que há espaço para uma queda maior das taxas de juros até o fim do ano. Como a nova projeção está bem abaixo da meta de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o mercado passou a trabalhar com a expectativa de que o BC vai ser mais agressivo na reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) e cortará em 0,50 ponto a taxa Selic, dos atuais 19,50% para 19% ao ano.

No relatório de inflação do terceiro trimestre divulgado hoje (29), os diretores do BC traçaram um cenário extremamente favorável para a inflação em 2005 e 2006. No documento, o BC informa que a projeção do IPCA de 2005 caiu de 5,8% para 5%, valor que já se encontra abaixo da meta de 5,1%.

Foi a primeira vez que a projeção do BC para a inflação deste ano convergiu para a meta, depois do longo ciclo de alta de juros iniciado em setembro de 2004. Pela primeira vez também, as projeções do BC ficaram mais próximas do cenário de mercado, que é feito com base nas expectativa de juros e taxa de câmbio dos analistas financeiros. Nesse cenário, a projeção de IPCA de 2005 caiu de 6,3% para 5,2%. Mas para 2006 subiu de 4,7% para 4 8%.

Ao divulgar os números, o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, respondeu às críticas de que altas doses de juros não são remédio para conter o aumento dos preços. Ele afirmou que a queda da inflação nos últimos três meses deve ser atribuída "fundamentalmente" à ação da política monetária. "O comportamento dos preços mostra que as pressões inflacionárias parecem estar superadas e as incertezas com relação à trajetória futura da inflação estão dissipadas", comemorou.

Ele admitiu também que a queda foi favorecida pela redução dos preços dos alimentos em intensidade superior ao normal. Entre junho e agosto, eles caíram 3,04%. Mas fez um alerta: essa redução se deve a fatores pontuais que podem não se repetir no médio prazo. Também contribuiu para o recuo do IPCA a valorização da taxa de câmbio, que favoreceu a queda das projeções de alta dos preços administrados, como telefonia e energia. Esses preços são corrigidos pelo IGP-DI, que sofre grande influência do câmbio.

O diretor do BC não perdeu a oportunidade de alfinetar os "pessimistas" que no início do ano previam que o crescimento da economia ia perder dinamismo devido à alta de juros. Segundo ele, "não foi o que aconteceu". Bevilaqua previu que a economia brasileira continuará tendo crescimento positivo nos próximos trimestres, embora num ritmo menor que o verificado no segundo trimestre do ano, quando o PIB teve aumento anualizado de 5,7%.

O BC manteve no relatório a projeção de crescimento de 3 4% do PIB para este ano, apesar de vários integrantes do governo depois da divulgação dos dados do segundo trimestre, terem afirmado que ela seria elevada. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, por exemplo, chegou a afirmar que a economia iria crescer mais de 4% neste ano.

Segundo Bevilaqua, a demanda externa em 2006 vai continuar contribuindo de forma positiva para o crescimento da economia, porém em intensidade menor. Na sua avaliação, as condições "excepcionais" da economia mundial verificadas nos últimos anos não devem prevalecer a médio prazo, embora continuem positivas. A tendência é de que ao longo do tempo aumente a contribuição da demanda interna para sustentação do crescimento da economia.

Ele procurou ainda desfazer as dúvidas que surgiram depois que o presidente do BC, Henrique Meirelles, citou, numa conferência nos Estados Unidos, a antiga meta de inflação de 4 5% para este ano, e não o objetivo de 5,1% que passou a ser perseguido desde o ano passado. Bevilaqua frisou que a meta não mudou. "Numa apresentação que fiz em abril deste ano, usei o mesmo gráfico utilizado pelo presidente e não houve toda essa discussão. Por que fazer essa mudança no último trimestre do ano? Toda essa conversa faz pouco sentido", disse.

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