Autonomia em Santa Cruz

No último domingo, Santa Cruz, na Bolívia, deu um ?sim? ao referendo pela autonomia, apesar de o presidente Evo Morales e seus seguidores terem feito de tudo para boicotá-lo, por considerá-lo ilegal e separatista. O recado ao presidente venezuelano Hugo Chávez e Morales foi claro: Santa Cruz quer se converter num bastião do antichavismo, numa região em que tanto seu país quanto todas as repúblicas que o rodeiam têm administrações que vão do centro à esquerda.

A Bolívia, após ter sido o país mais centralizador da região (os governos de cada um de seus nove departamentos não eram eleitos, mas designados pelo presidente), segue hoje numa direção oposta. A única nação sul-americana que perdeu a maioria de seu território original para seus cinco vizinhos, hoje sofre fortes tendências centrífugas, que poderiam convertê-la na Iugoslávia andina.

Desta forma, a Bolívia, certamente, aprofundará o abismo entre seu oriente, mais próximo a um modelo econômico tipo liberalismo ocidental, e um oeste situado no altiplano, que se inspira em algumas receitas do falecido bloco oriental ?socialista?.

O nacionalismo cambeta afirma não querer dividir a Bolívia, mas sim criar uma autonomia tão grande que permita evitar que o governo esquerdista regulamente a distribuição de terras ou tenha maior controle sobre o gás. Morales, Rafael Correa (presidente do Equador) e Chávez acusam os Estados Unidos de fomentar ?separatismos? nos principais contrapesos de suas capitais. No entanto, estes mandatários ?socialistas? podem estar ajudando a seus oponentes se não fizerem concessões a certas demandas referentes à descentralização de poder que hoje ecoa forte.

Nos últimos dois anos, o chavismo conseguiu que chegassem ao poder amigos seus na Bolívia, Nicarágua, Equador e Paraguai. No entanto, seu avanço também gerou resistências e eventuais derrotas. No Reino Unido, o que se viu neste último fim de semana foi uma derrota do maior aliado de Chávez na Europa: o prefeito londrino, Ken Livingstone. Ken, ?O Vermelho?, foi banido do cargo pelos conservadores, os quais deverão cancelar o convênio petroleiro existente entre Londres e Caracas, que subsidia parte dos transportes na capital britânica.

Isaac Bigio é analista internacional e ex-professor da London School of Economics.

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