Fangio, o Cachorro

Indubitavelmente, Juan Manuel Fangio, o argentino, foi o mais destacado piloto de carros de corrida do mundo.

Entre outras coisas, ele foi campeão do mundo por cinco vezes, mas isto, ressalte-se, naquele tempo em que as pistas de corrida e estradas eram precárias e o piloto pilotava mesmo e não apenas apertava botões.

Como se sabe, ele começou sua carreira automobilística na Argentina, terra das carreteiras e foi também exímio piloto de carreteira, tanto é que, tocando um Chevrolet Cupê venceu prova de longa duração entre as cidades de Buenos Aires e Caracas/Venezuela, em 1941. Fangio correu algumas vezes no Brasil, no autódromo de Interlagos/SP, sempre vencendo e tinha, em Curitiba, um ardoroso fan, ou seja, outro piloto de carreteira tão bom quanto ele mas, infelizmente sem projeção internacional: Paulo José Buso.

Sempre que a conversa girava em torno de corridas de carro e, quase sempre girava, Paulo Buso fazia questão de citar o nome de Fangio como um grande piloto.

Bem vai daí que Paulo Buso gostava muito, além de correr de carreteira, de caçar, sobretudo no campo, naquele tempo em que isto era permitido, até o final da década de 1950.

E quem caçava no campo tinha que ter um cachorro perdigueiro. Talvez, unindo o seu gosto pelas caçadas com a admiração que sentia por Fangio, Paulo Buso resolveu emprestar o sobrenome do piloto argentino para nominar um de seus cães prediletos: Fangio.

Foi assim que Fangio, o cachorro perdigueiro, ficou quase tão famoso quanto seu dono. De acordo com Miriam Buso, filha, onde Paulo Buso ia passear de carreteira, Fangio ia junto, inclusive em viagens mais longas.

Parecia que o cachorro gostava de ouvir o ronco do motor Ford V8 Flat Head envenenado e com escapes abertos e presenciar as peripécias de Paulo, sem medo.

Por outro lado, a senhora Otália, viúva de Paulo, sorri quando conta que já sabia quando o marido estava vindo da sua oficina mecânica na rua Comendador Araujo, em Curitiba, para casa, na avenida Guaíra, hoje John Kennedy, no início da noite.

Isto porque, antes que percebesse qualquer coisa, o Fangio, com sua audição aguçada detectava a longa distância o ronco do motor da carreteira e ficava impaciente, alerta, esperando o dono.

Numa oportunidade, Paulo Buso foi de carreteira a um local distante de Curitiba e o cachorro perdeu-se no mato. No dia seguinte, Paulo voltou ao local e quase derreteu o motor da carreteira de tanto acelera-lo para ver se Fangio ouvia e aparecia.

Mas, Fangio não apareceu, para tristeza do dono. Alguns dias depois, Fangio, por conta própria, apareceu em casa, para alegria geral. Paulo Buso, até morrer, sempre teve cachorros perdigueiros em sua fazenda e gostava de solta-los e com eles passear pelo campo, fato que presenciamos.

Mas, Fangio era predileto e talvez o único cachorro do mundo a passear de carreteira como se fora um co-piloto! Na foto, Paulo Buso, sua carreteira e seus cachorros.

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