Até o fim

Quando o governo quis aumentar o Imposto de Renda dos prestadores de serviços, levantou-se um movimento organizado para barrar suas pretensões. Esse movimento, que teve origem entre os empresários, fez o governo retroceder. Era retroceder ou sofrer fragorosa derrota no Congresso, onde, com ou sem mensalão, o Executivo obtinha tudo o que quisesse, mas já se esboçava um movimento de reação.

Toda a sociedade aplaudiu porque sabe que o Brasil tem uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo. E um dos mais ineficientes e parcos retornos para os contribuintes. Os brasileiros descobriram que, organizados e vigilantes, podem exigir seus direitos.

Algo como tal aconteceu no passado, quando um mar de lama cercava o governo e a antiga UDN pregava a eterna vigilância. O resultado foi mais traumatizante do que o impeachment de Collor, que, embora tenha significado um episódio relevante, estava inserido no rol dos mecanismos formais da democracia. No caso anterior, de Getúlio Vargas, tudo acabou com o suicídio do presidente.

A situação se repete. A sociedade está descontente e espera uma saída. Mas há um claro movimento buscando evitar o impeachment, mesmo que ele seja o caminho que se apresente. Os principais partidos da oposição querem ver Lula desistir de ser candidato à reeleição ou desgastar-se com os episódios de escândalos que estouram ao seu redor e respingam lama na Presidência, para garantirem que, se concorrer, será derrotado.

Também não querem nenhuma solução que leve a mudanças na política econômica, atingindo o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, cujo irmão já figura no enorme rol de suspeitos. Os partidos de oposição, nos quais se aboleta a maioria do empresariado, teme uma crise arrasadora com mudanças na política econômica, mesmo não estando cem por cento contentes com ela. Conservadora e atenta para não desagradar aos credores, principalmente os internacionais, essa política pode não ser a melhor para as forças produtivas nacionais, mas pior seria Lula e os governistas decidirem, para ganhar a opinião pública, que perdem em largas fatias todos os dias, partirem para aquela política que sempre pregaram no PT e anunciaram que praticariam, se ganhassem as eleições. Aí, os credores e os empresários poderiam acreditar no calote, na moratória e na socialização dos meios de produção. Lula poderia salvar sua candidatura à reeleição, mas o risco-Brasil explodiria e as torneiras dos empréstimos e investimentos diretos externos fechariam de vez.

Nesta segunda-feira, através de um manifesto de intelectuais de todo o País, liderado por professores da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, nasce um movimento criticando a forma como está sendo conduzida a atual crise política. A preservação de Lula, da política econômica de Palocci, o foro privilegiado até para o presidente do Banco Central, enfim, cautelas para que, se necessário, fique tudo como está. Os intelectuais e, depois deles, deverão surgir outros movimentos organizados, querem as investigações ?até o fim?. Sem barreiras e, se for preciso, admitem até o impeachment do presidente. Não querem que até os partidos de oposição estejam pondo a mão na massa para ver se, em último caso, a saída seja uma enorme pizza.

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