‘Assistencialismo do PCC é frágil’, dizem especialistas

Organizar festas, financiar time de futebol amador e oferecer proteção são estratégias de uma política assistencialista há muito usada pelo crime organizado. Foi assim que a Máfia Siciliana permaneceu no poder durante dois séculos e o tráfico do Rio ganhou o controle dos morros. É dessa forma também, como revelou a reportagem publicada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, que o Primeiro Comando da Capital (PCC) tem atuado em São Paulo. Porém, segundo especialistas, estreitar laços com a comunidade e assim fortalecer o crime organizado é uma estratégia frágil. Seu sucesso depende de muitas variáveis.

?Se os bandidos não tiverem raízes no lugar, será uma política fadada ao fracasso. Os moradores fazem uso das comodidades oferecidas, mas na primeira chance traem a organização?, diz Michel Misse, professor do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Não é necessário nascer no lugar, mas ter uma história na região.? Novatos no pedaço não teriam a menor chance de estabelecer laços de confiança suficientes para proteger os integrantes do crime na região.

Segundo Paulo Mesquita, coordenador da área de direitos humanos do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, a política de assistencialismo das periferias é a mesma praticada dentro das penitenciárias. ?Os favores recebidos viram dívidas, que são cobradas no tempo certo. Mas, à medida que essa relação se fortalece, a população fica duplamente ameaçada.? De um lado, é pressionada pelos bandidos e do outro, pela polícia. ?É a política da tortura?, diz. ?O algoz oferece confortos para depois espancar até a morte.

Voltar ao topo