As eleições e o MST

A campanha eleitoral provocou um distanciamento entre o Partido dos Trabalhadores e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. As duas organizações sempre estiveram associadas, porque o PT, até por questões ideológicas, sempre lutou pela reforma agrária e apoiou o movimento organizado dos sem-terra, inclusive seus métodos mais radicais, como os de invasões de fazendas improdutivas e, muitas vezes, também produtivas. A dissociação foi uma iniciativa necessária para não comprometer, perante a opinião pública e forças mais conservadoras que hoje aderem ou admitem Lula na Presidência da República, a imagem do candidato. Partícipe de um processo eleitoral democrático, o PT não poderia ser conivente e muito menos incentivador de atos ilegais, mesmo que praticados em busca da reforma agrária como condição para o desenvolvimento econômico e social do País.

O divórcio entre PT e MST mais se consolidou, pelo menos em termos de mensagens ao eleitorado, quando os sem-terra invadiram a fazenda do presidente Fernando Henrique Cardoso e nela realizaram algumas depredações. E, logo em seguida, prometeram realizar centenas de outras invasões em todo o País, o que prejudicaria a candidatura do atual líder nas pesquisas de intenções de voto. Agora, reflui o MST de sua agressiva posição, prometendo uma trégua em suas ações entre agosto e novembro, para poupar a imagem do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo os líderes nacionais do movimento, Gilmar Mauro e João Paulo Rodrigues, haverá uma “campanha institucional” na mídia e no Poder Judiciário objetivando criminalizar o MST. Isso teria como objetivo atingir a “candidatura de esquerda” de Lula, para muitos ainda associada às invasões. Verdade, cautela ou pura imaginação, essa campanha poderia ser considerada já em andamento, com a prisão do líder José Rainha, sua soltura por habeas corpus e subseqüente decretação de nova prisão. Ele está foragido. Os líderes do MST prometem que, logo após as eleições, e seja quem for o eleito, voltarão a invadir terras. O PT, que se consolida como agremiação política depois de anos e anos de lutas e da conquista de importantes cargos executivos, já começa a experimentar a situação de vidraça, depois de ter sido por muito tempo estilingue. Seus governantes, dentre eles Marta Suplicy, prefeita de São Paulo, enfrentam movimentos reivindicatórios nem sempre comportados, em nada diferentes daqueles que antes apoiaram com dedicação e entusiasmo.

Assim, se Lula for eleito, pode esperar, inclusive do MST, ações radicais, como invasões de propriedades. A trégua é somente durante a campanha eleitoral, o que já fez o líder do PSDB no Senado, Geraldo Melo, considerá-la uma medida eleitoreira. É de se crer que Lula e a facção petista que o apóia tenham refluído das posições mais radicais do passado para posições mais legalistas e “lights”. Como disse o próprio candidato petista, há poucos dias, depois de tantos anos na vida pública seria impossível que nada aprendesse. E uma boa lição é que há uma distância entre o que se quer fazer, o que se deseja que façam e o que é possível realizar. Mas as forças de esquerda mais radicais, com ou sem Lula na Presidência, vão continuar lutando com os mesmos métodos, dentre os quais as invasões. Por isso, o distanciamento pode ter sido real e não uma posição inspirada exclusivamente em interesses eleitoreiros.

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