Arsenal pesado

Nada há de salutar ou respeitável na corriqueira postura dos partidos políticos, porquanto em se tratando de eleição vale qualquer recurso, mesmo o mais abominável. É o que dá a entender o repto feito aos ministros Dilma Rousseff e Paulo Bernardo, na exigência presidencial da execução dos investimentos governamentais previstos para este ano.

Não é preciso discorrer sobre a correlação entre a ordem do governo e o ano eleitoral bastante próximo, ao longo do qual, mesmo jurando não ter decidido se será candidato à reeleição, o presidente Lula precisará de pesado arsenal de realizações para convencer o eleitorado do merecimento de segunda oportunidade.

O mal-estar de alguns setores do governo com o famigerado superávit primário, principal bandeira do ministro Antônio Palocci, revelou-se na lavagem de roupa suja antes efetuada nos bastidores pelos ministros citados, nos últimos dias libertos da preocupação de escondê-la.

Lula está diante de mais um sério desafio. Manter Palocci no governo, cuja saída poria em risco a até agora inquebrantável política econômica, baseada na economia draconiana de gastos em projetos sociais para, ao mesmo tempo, assinalar à nação com a presteza necessária que o governo saiu da inércia.

Até esse momento, não se conhece um só projeto relevante em execução sob responsabilidade do governo federal, que ainda não viabilizou o deslanche das Parcerias Público-Privadas (PPPs) e, tampouco o Projeto Piloto de Investimentos (PPI), a ser tocado com o incentivo do FMI, numa espécie de prêmio pelos excelentes índices do superávit primário.

As rodovias federais – para ficar no exemplo único – estão em situação calamitosa, a ponto de a Justiça acatar a ação do Ministério Público Federal fixando o prazo de seis meses para o término da duplicação das pistas da Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba). Aí se expõe de forma gritante a inoperância governamental.

Como 2006 é ano eleitoral, o governo lambe os beiços e afia as garras lobrigando a presa desprevenida do eleitor sugestionado por enormes tratores e alguns milhares de operários pululando em canteiros de obras. É provável que essa visão maniqueísta seja recebida com um rotundo não. A semana é vital para a permanência ou não de Palocci no governo e, de quebra, para a fixação da diretriz da casa onde todos gritam e ninguém tem razão.

Voltar ao topo