Arrogância belicosa

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, esbravejou ameaças contra o Iraque na assembléia geral da Organização das Nações Unidas. Pressionou a organização mundial e multilateral para que aprove uma guerra contra Saddam Hussein, advertindo desde logo que, se não o fizer, os EUA agirão por conta própria, com os apoios que conseguirem. Ou mesmo sozinhos. Toma o governo norte-americano, como se fosse seu direito, o exercício arbitrário das próprias razões, admitindo apequenar, desmoralizar a sociedade das nações, colocando como dispensável sua aquiescência a uma guerra contra o Iraque. É até possível que existam muitas razões para que o mundo democrático queira ver fora do poder o ditador do Iraque. Por ser ditador, por já haver, no passado, invadido um país vizinho para tomar-lhe o território e o petróleo, por desenvolver armas de guerra que poderão ser químicas e até nucleares. Disto se suspeita, pois faltam provas concretas. Bush enumerou 16 resoluções da ONU que o Iraque teria ignorado e é sabido que sempre dificultou as investigações do organismo internacional sobre seus preparativos belicosos.

Mas, o que autoriza Bush a passar por cima da ONU, contrariar a opinião da maioria de seus aliados, à exceção do governo britânico, para arvorar-se ao direito de bombardear um outro país, a fim de dobrá-lo à sua vontade? Ou evitar, como declara, que se arme para a guerra, quando os Estados Unidos são o país mais bem armado do mundo?

Prepotência, que não se escusa no fato de ter sido vítima de um terrível e odiento ataque terrorista há um ano. Ataque que, diga-se de passagem, os Estados Unidos não foram capazes, até o momento, de dentificar os verdadeiros responsáveis, mesmo depois de terem movido guerra contra o miserável Afeganistão. Não se nega à poderosa nação do Norte solidariedade, mas ela não pode estender-se à sua sanha de guerrear contra o Iraque, exponte própria, antes que a ONU assim decida ou autorize. No mundo globalizado em que vivemos, é preciso fortalecer os organismos multilaterais para que as decisões arbitrárias sejam substituídas por deliberações conjuntas, de grupos de países ou, no caso da ONU, pela comunidade das nações. Senão, a globalização vai ser instrumento de imposições dos mais fortes, seja militar ou economicamente, em detrimento dos países mais fracos e mais pobres.

Na assembléia geral da ONU, o multilateralismo foi defendido com competência tanto por Kofi Annan, secretário-geral, que pediu ao governo Bush que não aja unilateralmente contra o Iraque, como pelo representante brasileiro, ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, que defendeu o multilateralismo e a cooperação e destacou a necessidade de reformas das instituições financeiras e econômicas para enfrentar a globalização. No que respeita à ameaça de guerra, a posição do governo brasileiro é clara em favor de que não se aja militarmente contra o Iraque, ou qualquer outro país, sem a chancela da Organização das Nações Unidas. Por detrás das guerras está o abandono das negociações, dos tratados e convenções, a arrogância dos mais fortes e sempre alguma causa econômica que não se consegue camuflar.

Na iminente guerra contra o Iraque tudo isso está acontecendo e não falta sequer a motivação econômica, o petróleo de que os Estados Unidos tanto necessitam e o país de Saddam Hussein é um dos maiores produtores do mundo.

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