Após polêmica, Temporão não acompanha visita do Papa

Diante do clima de crescente tensão com integrantes da Igreja, fruto do debate sobre aborto, camisinha e educação sexual, o ministro José Gomes Temporão desistiu de acompanhar uma visita que o papa Bento XVI faria a um centro de tratamento em Guaratinguetá. O encontro até anteontem era dado como certo por funcionários do ministério. Com o aumento da polêmica e da troca de farpas com representantes da Igreja, o ministro desistiu de acompanhar a visita. A atitude preservaria o ministro – e integrantes da Igreja – de novos constrangimentos.

Oficialmente, assessores não admitem que este é o motivo de o ministro não acompanhar a visita. Eles dizem que encontro não será realizado por questão de agenda. No sábado, Temporão embarca para uma viagem para Genebra, para participar da Assembléia Mundial de Saúde.

Ao longo dos últimos dias, houve uma troca pública de críticas entre ministro e representantes da Igreja. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, d. Magela Agnello, afirmou que a educação sexual incentivava uma "atitude que se aproxima do animal". O ministro, por sua vez, ontem afirmou que a Igreja não tratava o tema do aborto com delicadeza e que a atitude de alguns de seus membros destoava do que Jesus havia ensinado.

Tal desfecho é bem distinto do que inicialmente havia sido planejado. Movimentos que lutam pela liberação do aborto no País pretendiam evitar ao máximo que o tema fosse abordado durante a visita do papa. A idéia era afastar qualquer risco de a população formar uma opinião sobre o assunto num clima de comoção, tradicionalmente formado durante a visita de papas ao País.

Sabia-se que integrantes da Igreja adotariam a atitude oposta, de aproveitar a visita do pontífice para resgatar o debate – o que foi confirmado. Para parte do movimento feminista, ao aceitar as provocações da Igreja, o ministro foi pouco prudente. Ele ampliou uma discussão que poderia ser esquecida logo depois de o papa voltar para o Vaticano. O que se vê, no entanto, é justamente o contrário. No Congresso, a bancada religiosa aproveita todo o debate para desencadear uma onda contra aborto. Tudo o que feministas tentavam evitar.

"Mas o movimento não pode ser como avestruz", afirmou a presidente da Rede Feminista de Saúde, uma das mais representativas organizações feministas, Telia Negrão. Ela admite que antes da visita do papa havia o acordo tácito para deixar em banho-maria o debate sobre uma lei ou plebiscito sobre aborto. "Diante do debate, o ministro fez bem em se posicionar", afirmou. "Não se pode deixar que as críticas, informações que não se sustentam fiquem sem resposta", completou.

Voltar ao topo