Alta dos alimentos pode afetar alimentação do trabalhador

Nos últimos meses, o setor de refeições coletivas vem enfrentando um sério problema. Os preços dos produtos alimentícios – seja por pressões internas ou em função de conjuntura internacional, como é o caso do arroz – experimentam uma sucessiva onda de  majoração. Iniciada ainda no segundo semestre de 2007, essa tendência se acentuou e se intensificou nos primeiros meses deste ano. Conforme a pesquisa oficial da inflação, feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), de abril de 2007 a abril deste ano, os oito principais grupos de alimentos tiveram um reajuste médio de 51,58%, com destaque para os 57,75% de cereais e grãos; os 67.53% do grupo óleos e gorduras; e o caso do líder em majoração, o feijão carioquinha, com o estratosférico percentual de 138,80%.

"Em razão dessa realidade, os segmentos cujas atividades possuem forte dependência dos alimentos como matéria-prima, estão sofrendo profundo desequilíbrio em seus caixas", afirmou Rogério da Costa Vieira, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas – Aberc, durante coletiva de imprensa, realizada, nesta terça-feira (3), em Curitiba.

De acordo com Vieira, o ramo das empresas de refeições coletivas, atividade que supre a alimentação de trabalhadores, escolares, pacientes hospitalares, áreas de segurança e outros, é um dos mais afetados.  "Como nossos associados estão amarrados a contratos anuais de complicada renegociação, as empresas vivem o dilema de continuar operando
apesar de ter uma margem cada vez mais estreita, quando não raro negativa, o que pode acabar inviabilizando a atividade", explicou. "Se tal situação perdurar por muito tempo, a tendência é comprometer também a alimentação do trabalhador", complementou.

Diariamente as empresas do setor servem um total de 8,3 milhões de refeições para empresas. Além disso, como o setor participa ativamente do processo de terceirização da merenda escolar servida diariamente a cerca de 34 milhões de crianças, igualmente esse serviço pode vir a sofrer com a atual elevação dos preços dos alimentos.

No Paraná, empresas buscam renegociar contratos para atenuar alta de preços dos alimentos

Assim como vem ocorrendo em todo o País, também as empresas de refeições coletivas do Paraná estão sentindo os efeitos negativos da forte onda de aumento nos preços dos alimentos. Responsáveis por cerca de 40% de mercado estimado em 700.000 pessoas atendidas diariamente no estado, incluindo nesse total os beneficiados pelos tickets, cestas básicas e vales de supermercados, as empresas paranaenses de refeições de coletividade estão tendo de conviver com aumentos que alcançaram o patamar de 100%, em termos anuais, como é o caco do feijão e da farinha de trigo. Alguns empresários estão tentando junto aos seus clientes renegociar os parâmetros dos seus contratos – entre os que já tiveram êxito na renegociação, ela tem oscilado entre 8% e 10%.

Também há aquelas empresas que partiram para uma melhor negociação na hora da compra de matéria-prima, por meio de compras programadas. Outra tática é propor aos clientes a substituição de alguns itens por outros similares, mas de preços menores. Um caso exemplar de substituição foi a troca do feijão carioquinha pelo preto. No caso da tentativa de renegociação dos contratos, o setor teve a seu favor o fato de a maioria dos contratos, por coincidência, vence nos meses de abril e maio, o que facilitou o convencimento da necessidade de novos parâmetros.

Segundo Carlos Antonio Gusso, vice-presidente regional da Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas – Aberc, apesar dessa situação conjuntural desfavorável, a perspectiva do setor de refeições coletivas no Paraná, que atualmente
representam 7% do volume movimentado pelo setor em nível nacional, é de continuidade dos níveis de expansão que o segmento vem tendo nos últimos anos, que tem se mantido entre 8% e 10% ao ano nos últimos anos. "Tal desempenho é fruto de uma situação econômica favorável vivida em nosso estado e, também, devido à instalação de novas indústrias na região", finalizou.

Indústria de refeições coletivas projeta expansão para 2008, com receita de R$ 9,5 bi

A indústria brasileira de refeições coletivas trabalha com a perspectiva de ver sua receita crescer 12% neste ano, mesmo percentual de expansão registrada em 2007, quando o faturamento bruto atingiu R$ 8,4 bilhões. O principal fator para essa perspectiva otimista, de acordo com Rogério da Costa Vieira, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas – Aberc, é a tendência de aquecimento econômico que continua no embalo de 2007 e repercute no aumento do emprego, demandando, por sua vez, mais serviços de alimentação. "Para este ano, nossas projeções apontam para um faturamento bruto da ordem de R$ 9,5 bilhões", disse.

Na análise do total de refeições servidas, os dados da Aberc indicam que, no ano passado, quando foi servida a média diária de 7,5 milhões de refeições pelas empresas a ela associadas, o aumento em relação a 2006 foi de 7,1%. Para este ano, a
estimativa da entidade é de um crescimento na faixa dos 11%. Se isso se confirmar, o total de refeições servidas subirá para 8,3 milhões de média diária.

"Nossas projeções serão facilmente atingidas, se analisarmos os resultados apresentados por alguns segmentos da economia brasileira", constatou Vieira. A agricultura, por exemplo, viu a safra crescer 40% acima da anterior; o setor automotivo teve aumento médio de 27,8% nas vendas diárias de veículos em 2007, na comparação com 2006; e a área de construção civil contratou mais 750 mil pessoas no ano passado.

Além desses segmentos, Vieira afirmou que a indústria petrolífera é outro que deverá ter forte expansão em decorrência do anúncio de reservas no litoral paulista. Acrescente-se a esses dados, o fato de o setor automotivo ter iniciado este ano superando as marcas de produção de 2007. "No total, estimamos o mercado potencial de refeições no Brasil em 24 milhões de refeições por dia em empresas, e da ordem de 17 milhões em escolas, hospitais, estabelecimentos penais e nas Forças Armadas", completou. Atualmente, as empresas do setor empregam cerca de 180 mil pessoas.

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