Agosto, mês do desgosto?

No dia 20 de agosto começa a propaganda eleitoral gratuita, garantida pela legislação eleitoral. O público mais uma vez lamentará esse período, em que será suspensa a livre escolha de programas de rádio e televisão para estabelecer-se o monopólio de ladainhas de políticos, freqüentemente obras de ficção de má qualidade. Em se tratando de eleições para presidente da República, os candidatos, assessorados por marqueteiros e publicitários mais ou menos competentes, alguns de nomeada nacional, é possível que desta vez os programas gratuitos de propaganda eleitoral não sejam tão chulos quanto os que, em outras épocas, aborreceram os telespectadores e ouvintes. Os próximos terão, provavelmente, mais qualidade e, oxalá, melhor conteúdo.

Tanto para Lula quanto para Serra, o tempo no rádio e na televisão ganha importância decisiva. Para Lula, será a oportunidade de reduzir o seu nível de rejeição, que nos pleitos passados foi bastante alto. Ele vem se dedicando a convencer as camadas mais conservadoras da sociedade de que é um candidato confiável, bem distinto do radical de esquerda que se candidatou e perdeu três vezes no passado. Para Serra, os programas serão vitais, pois, mesmo sendo um homem público experiente e respeitado, sempre projetou uma imagem que não estabeleceu empatia com o eleitorado.

Para ambos os candidatos, e mais Ciro Gomes e Garotinho, os dois embolados com Serra nas últimas pesquisas, será o ensejo de apresentar seus programas de governo para análise do eleitorado e como pretendem, uma vez eleitos, realizá-los. O que se conhece, até aqui, são apagados esboços que mostram um Serra continuista e um Lula com jeito de esquerdista arrependido.

Assim, nos preparemos para este agosto, que a partir do dia 20 terá os programas eleitorais duas vezes por dia, muitos dias por semana e por tempo suficiente para roubar, aos telespectadores e ouvintes, muito de sua programação de lazer predileta. Nos preparemos porque existem fundadas esperanças de que, desta vez, os programas, pelo menos dos candidatos presidenciais, não serão tão chatos e certamente serão úteis para o esclarecimento da opinião pública.

Os políticos-artistas terão tempos diferentes de exposição no rádio e na televisão. José Serra é o candidato com maior tempo, pois contará com 7 minutos e 23 segundos em cada programa, graças à aliança do PSDB com o PMDB. Em segundo lugar vem Lula, com 3 minutos e 36 segundos. Teria um pouco mais, se tivesse logrado a coligação com o PL, dificultada tanto por petistas, quanto por liberais. Ciro Gomes terá 3 minutos e 22 segundos, graças à coligação que o apóia, PPS, PTB e PDT.

Anthony Garotinho terá apenas 1 minuto e 52 segundos. Talvez um pouco mais, se lograr fazer coligações com alguns partidos nanicos. Mas lhe vale o fato de ser o único, dos candidatos, que é profissional no ramo. É radialista, um “candidato da latinha”.

As pesquisas têm mostrado, até aqui, que a maioria do eleitorado consultado demonstra preferência por Lula. Em segundo lugar, com larga diferença do candidato do PT, vem José Serra, Ciro Gomes e Garotinho, tecnicamente empatados. Todos atribuem aos programas gratuitos do TSE o condão de consolidar a candidatura vencedora, ratificando os atuais resultados das pesquisas ou virar o jogo, o que já aconteceu no passado. Isto nos dá esperança de programas menos chatos e um agosto que não seja exatamente o mês do desgosto, senão para os candidatos perdedores.

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