Acusações de Morales podem forçar Lula a endurecer tom

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcará nesta tarde em Viena para participar da Cimeira entre a União Européia, América Latina e Caribe, sob uma renovada pressão para endurecer a posição brasileira em torno da crise com a Bolívia.

Nesta manhã, antes mesmo do início formal do evento e numa atitude que surpreendeu os diplomatas brasileiros e europeus presentes na capital austríaca, o presidente Evo Morales empregou um tom duro e acusatório contra a Petrobras e o Brasil durante uma entrevista à imprensa. O líder boliviano acusou a estatal brasileira de manter atividades ilegais na Bolívia, inclusive incluindo-a no grupo de petroleiras que considera "contrabandistas". Morales, num tom firme, foi mais longe, afirmando que tentou conversar com Lula sobre sua decisão mas não conseguiu. Além disso, comentou a compra pelo Brasil do território do atual estado do Acre, que era da Bolívia. "Lamento muito que o Acre foi comprado em troca de um cavalo", disse Morales.

Apesar do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ter endurecido o tom do discurso do governo brasileiro nesta semana, as novas declarações de Morales, que sinalizam que a Petrobras não será indenizada na Bolívia, criam uma situação delicada para o presidente Lula justamente num encontro no qual as principais lideranças da América Latina e Europa estarão reunidas.

Fontes diplomáticas admitem que a escalada agressiva na retórica de Morales, considerada em muitos pontos desrespeitosa ao Brasil, é um "desdobramento preocupante" e poderá levar o presidente Lula a manifestar, publicamente, uma resposta dura ao colega boliviano.

Outro desafio de Lula em Viena será o de reafirmar a liderança brasileira na América do Sul, abalada pela crescente influência regional do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, pelos recentes atos de Morales e a profunda crise no Mercosul.

O início da Cimeira foi negativo, sob a perspectiva de Brasília, afirmam fontes diplomáticas européias. A entrevista de Morales atraiu cerca de 150 jornalistas estrangeiros e se tornou o principal assunto no primeiro dia do evento. Chávez, com uma comitiva de cerca de cem pessoas, deve também fazer bastante barulho na reunião. Enquanto isso, os europeus observam perplexos e confusos o agravamento da situação política na América do Sul.

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