A marcha dos governadores

Está anunciada para o dia 30 próximo a marcha dos governadores sobre o Congresso Nacional. É idéia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quer, assim, solene e extravagantemente informar à nação que, embora as divergências existentes, estão todos irmanados em torno da idéia de levar adiante a empreitada das reformas, as mesmas que durante os dois períodos anteriores de governo de FHC foram boicotadas pelo Partido dos Trabalhadores como uma tática de chegar ao poder. Feitas as combinações, aparadas as arestas, arredondadas as propostas, só falta o refrão “governadores, unidos, jamais serão vencidos!”. Ai dos contribuintes.

Há quem diga que Lula está errando no marketing. São tantas as discordâncias em torno das reformas que essa marcha poderá apenas ser o começo do fim. E elas começam em casa, sob a liderança do trio formado por João Batista Araújo (Babá), Luciana Genro e Lindberg Farias, que promete arregimentar um grupo bem maior de “companheiros” do partido, parlamentares de outras agremiações e, também, lideranças sindicais dos servidores públicos já decepcionados com o governo que apoiaram “sem medo de ser feliz”. “O PT não é oposição ao PT”, brada o presidente José Genoíno. “Do jeito que foi anunciada, a reforma da Previdência não passa”, respondem os primeiros. Eles se referem basicamente à pretendida taxação dos inativos, um dos nós da questão previdenciária, ao lado da quebra de alguns “direitos adquiridos” que FHC chamava de privilégios.

Num palanque montado em Ouro Preto, o presidente Lula repetiu, já sob o protesto explícito da “gloriosa” Liga Operária, o velho ensinamento de FHC segundo o qual “sem reformas não há crescimento”. Colocaram-lhe no pescoço medalhas da Inconfidência Mineira, símbolo da luta até a morte de um punhado de descontentes contra a derrama – o arrocho fiscal da coroa portuguesa sobre as atividades das Minas Gerais. É curioso ver que a honraria serve hoje para distinguir os que arrecadam e prometem reformas sem diminuição de tributos…

Na marcha dos governadores sobre o Congresso, mais alto que a linguagem da unidade pretendida por Lula poderá falar aquela da dissensão. Tem governador já reivindicando, além da redivisão do bolo da União, uma carona dos estados na nova CPMF (a futura Contribuição Permanente sobre Movimentação Financeira). A reforma anunciada vai, pelo visto, fincar as estacas do gosto do Estado pela tributação em cascata, essa mesma que todo contribuinte condena por gravar cada uma das fases da produção, seja do grande industrial, seja do pequeno artesão. Sendo assim, o crescimento referido por Lula poderá não ser exatamente o da economia e o da geração de empregos, mas, sim, o do próprio Estado, que já abocanha quase metade do que cada trabalhador produz de sol a sol.

Para cumprimento da revolução prometida durante a campanha, melhor seria que a Esplanada dos Ministérios, em lugar de governadores de chapéu na mão, também de olho nos impostos que pagamos, fosse atravessada por uma multidão de contribuintes. Felizes pela possibilidade da implantação de uma justiça fiscal que honrasse, não apenas o patrono das inconfidências – o nosso Tiradentes – mas também a imensidão territorial de nosso País, rico e merecedor de uma chance melhor que essa que temos.

Voltar ao topo