A hora do desenvolvimento

O ministro da Fazenda, médico Antônio Palocci Filho, falando a um prestigioso jornal norte-americano, disse que ainda não era hora de o Brasil retomar o desenvolvimento e indicou que tal aconteceria só no ano que vem. Aqui no Brasil, outros membros do governo, inclusive o presidente Lula, empurravam para mais tarde esse desejado desencalhe. O presidente, em sucessivas ocasiões, pediu aos políticos, empresários, trabalhadores e ao povo em geral, paciência. Esta arrumando a casa, criando adequado nível de independência econômica, para que o Brasil possa crescer de forma sustentada, andando pelas próprias pernas.

Neste espaço, em diversos comentários, falamos o que já gritavam empresários, trabalhadores e até representantes da Igreja Católica. Que arrumar a casa é necessário, mas a dilação de prazo para a retomada do desenvolvimento, com a produção de superávits sobre superávits para pagar a dívida externa, sem deixar nada de sobra para tonificar a economia interna, esta produzindo efeitos perversos. O principal deles é o desemprego, que é crescente e a cada dia mais aflitivo.

As últimas pesquisas dão o conceito positivo de Lula perante a opinião pública como estável, mas em importantes itens há evidentes sinais de desconfiança, senão de desprestígio. Ele já assistiu a protestos em reuniões a portas fechadas; protestos dentro do próprio PT; passeatas e até mesmo sofreu vaias.

Agora, Palocci muda de linguagem, repetindo com termos médicos que o Brasil “definitivamente deixou a UTI”. Para justificar o inesperado otimismo, vindo de quem há tão pouco tempo postergava as perspectivas de desenvolvimento, refere a superávits crescentes na balança de pagamentos, na comercial, no nível de arrecadação do Tesouro. Acrescenta a redução do risco-país e a contenção do assustador processo inflacionário.

Lula, secundado por Palocci, anuncia que é hora de adotar a “política de desenvolvimento”. E aí vem o programa do primeiro emprego, de financiamento a pequenos produtores rurais, a abertura de contas bancárias para os cidadãos de baixa renda e micro-empréstimos para pessoas físicas e jurídicas de mínimo ganho. Essa mudança de anúncios de perspectivas, ocorrendo tão poucos dias antes dos apelos por paciência e prognósticos de desenvolvimento em futuro bem mais distante, tomara que corresponda à efetiva decisão do governo.

Mas, se considerarmos que tudo vinha indicando que o governo federal estava tendo seu prestígio enfraquecido, a ponto de ter de ceder em capítulos que considerava pétreos nas reformas que propôs ao Congresso, poderemos desconfiar que se trata de mais um discurso otimista do que um projeto de fato. As medidas anunciadas, que são bem-vindas, não autorizam esperar uma retomada já do processo de desenvolvimento econômico. Inexiste qualquer projeto de porte, consistente, que indique essa retomada.

Os primeiros seis meses do governo Lula arrumaram, em medida até inesperada, os setores cambial, fiscal, de endividamento, enfim, a parte financeira do governo. Mas, como conseqüência, geraram feridas profundas no setor produtivo, nas empresas e dolorosas na classe trabalhadora. O desemprego bateu recordes. Tomara que o anúncio da retomada do desenvolvimento não seja mero paliativo ou apenas propaganda para conter o pessimismo crescente e a queda de prestígio do governo, o que não interessa ao País.

Voltar ao topo