A grande distorção hoje é taxa de juros, diz Fraga

São Paulo – O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse que a grande distorção no Brasil hoje é a taxa de juros. Otimista, ele afirmou estar confiante de que o País tem condições para superar esse problema no futuro próximo. Segundo ele, existem condições excelentes para uma redução dos juros, até para níveis abaixo dos previstos. "Talvez possamos ter uma queda inimaginável para a maioria das pessoas", disse Fraga, durante o seminário "Renovar Idéias – Política Monetária e o Crescimento Econômico do Brasil", promovido pelo Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, e pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Assim como os outros cinco debatedores do seminário, Fraga elegeu a taxa de juros básica como o foco de suas preocupações. Para ele, o problema deve ser abordado por dois ângulos: o dos fundamentos e o das questões transitórias. Neste sentido, assim como os outros economistas, Fraga apóia uma abordagem da questão fiscal, embora reconheça que o assunto é "difícil, antipático e complexo". A redução dos juros dependerá também dos que os economistas chamam de questões da oferta. Ou seja, da remoção de obstáculos como o custo de capital, a infra-estrutura e a regulação.

No curto prazo, o ex-presidente do BC não acredita que o País possa crescer em níveis asiáticos sem abordar esses dois grupos de problemas. Por questões transitórias, Fraga citou quatro problemas. Em primeiro lugar, ele criticou a expansão real dos gastos públicos em 10% em 2005. Em seguida, ponderou que a política monetária "teve de trabalhar dobrado" no ano passado porque, embora tenha tentado enxugar a demanda, teve de lidar com a expansão do crédito, que veio em conseqüência de novos mecanismos, como o do crédito consignado. "Faltou apoio fiscal e também na política creditícia", afirmou.

Ao falar sobre as críticas à rigidez das metas de inflação, Fraga concordou com o ex-diretor do BC Ilan Goldfajn de que talvez o País "possa dar uma pausa" a partir da fixação de uma meta de 4,5% para este ano. Ou seja, o governo não deveria tentar reduzir ainda mais a inflação nos próximos anos, como vem fazendo desde a adoção do sistema.

O ex-presidente do BC também comentou a desdolarização da economia promovida pelo governo Lula ao longo de 2005, com o aumento das reservas internacionais, redução do passivo cambial e colocação em mercado dos swaps reversos. "Talvez fosse possível carregar um pouco menos nesse campo e reduzir os juros" disse.

Ao mesmo tempo, Fraga ponderou que essa opção do governo permite com que se preveja agora uma redução expressiva da taxa de juros. Mantendo o tom crítico, disse que a opção mais dura na condução da inflação fez com que a economia brasileira crescesse pouco em 2005 em um ano "glorioso" da economia mundial.

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