Wynton Marsalis traz orquestra de jazz para SP

d72.jpgSão Paulo (AE) – Terno impecavelmente cortado, bigodinho old fashion e sapatos tão reluzentes que, sugeriu um cronista, se um carro passar numa poça e encharcá-los de lama, ainda assim continuarão brilhantes. O trompetista americano Wynton Marsalis destaca-se na paisagem do jazz por muitas características. A maior delas não é a aparência, entretanto. É sua absoluta devoção ao ritmo que define como "total jazz", como diz em entrevista ao Estado.

"Jazz é a música da América. Nasceu em Nova Orleans, mas se desenvolveu em muitas outras cidades, como Philly, Detroit, Kansas City, Los Angeles e, tudo junto veio dar em Nova York. É a maior contribuição cultural da América. Quando nós afirmamos o jazz, nós afirmamos o que nossa cultura tem de melhor a oferecer", disse o músico, o primeiro jazzista a ganhar um Pulitzer – também ganhou 11 prêmios Grammy, dois deles por discos de música erudita.

Marsalis é o diretor artístico do Jazz at Lincoln Center, que mantém uma das mais virtuosísticas, criteriosas, regulares e celebradas big bands de jazz da atualidade, a Lincoln Center Jazz Orchestra, da qual ele é o band leader. Ele e seu grupo, em turnê mundial, desembarcaram ontem em São Paulo, para um show gratuito hoje, ao meio-dia, no Parque do Ibirapuera, e dois concertos na Sala São Paulo amanhã e na terça (preços menos virtuosos, entre R$ 150 e R$ 300).

O show da big band de Marsalis, com 15 dos seus melhores músicos no Ibirapuera é, para citar uma expressão já popular de Oswald de Andrade, "biscoito fino para as massas". Parte do melhor jazz produzido no século 20 estará no programa: Ellington, Mingus, Coltrane, Armstrong, Basie.

A orquestra de Wynton é tão bem-reputada e querida em Nova York que acaba de ganhar casa própria em Manhattan, o Frederick P. Rose Hall, um investimento de US$ 128 milhões pagos pela comunidade, na Rua 59, no redemoinho de Columbus Circle. Marsalis a chama "The House That Swing Built". Na abertura, em outubro, ele convidou Cyro Baptista e Hermeto Pascoal para o show Brasil Livre. "Eles quase botaram a casa abaixo", conta Marsalis.

Marsalis é definido como purista – adjetivo às vezes usado para incensá-lo e noutras para demonizá-lo. Odeia hip-hop, por exemplo, e não faz disso segredo. Ele é bastante claro quando fala sobre suas posturas sociais, políticas, artísticas e sobre os motivos pelos quais elas convergem.

"Eu me preocupo com a geração de afro-americanos que está crescendo e sendo vítima constante de virulentas imagens com estereótipos negativos, coisa que presenciei pela primeira vez quando estava no colégio, com os pimp movies e aquilo tudo. E eu sei o tipo de efeito negativo daquilo em minha geração. Nossa nação não deve sentar-se e assistir impassível a coisas como o uso da palavra ?nigger? (negão). Sinto que isso é um ultraje e fico envergonhado pelo fato de isso ser considerado parte da cultura afro-americana, pois não representa nada que eu conheço como cultura afro-americana", afirma.

Voltar ao topo