Vovô Guimarães Rosa

São Paulo – Vovô é aquela figura que sempre tem uma história para contar ou uma brincadeira diferente para fazer; com certeza uma diversão garantida para a garotada. Nem João Guimarães Rosa, o “maior escritor do século XX”, como afirma José Mindlin, escapou dessa regra. A face afetuosa e lúdica do autor de Grande Sertão: Veredas pode ser vista em Ooó do Vovô (74 págs., R$ 50), editado pela Edusp, Imprensa Oficial e PUC de Minas, uma publicação que reúne cartas, cartões, bilhetes e desenhos feitos para as netas de coração, Vera e Beatriz Tess, entre setembro de 1966 e novembro de 1967, e será lançado hoje em São Paulo.

O foco de Ooó do Vovô está na relação entre avô e netas. “Não tivemos a preocupação em mostrar o escritor; na verdade, destacamos o lado do avozão, que contava muitas histórias, nos levava para passear no Jardim Botânico, no Zoológico, lugares que ele amava.”

Mesmo assim, a paixão que Rosa tinha pela sonoridade das palavras e pela linguagem está presente nos cartões e cartinhas, que reproduziam a maneira como as meninas falavam: “Vovô atí, titita atí, neném vem atí?”. Vera destaca que seu avô Joãozinho falava como elas, com a preocupação de entrar no universo infantil, de certa forma o mesmo que fazia em seus romances.

Na época, Vera tinha apenas 4 anos e Beatriz, 5. Moravam em São Paulo, com os pais. Vera, como não estudava, passava boas temporadas no Rio e ainda bem pequena costumava apontar para as coisas, demonstrando certa preguiça em falar, e dizer “ooó”. Não demorou muito para ganhar o apelido de “Ooó do Vovô”. Já Beatriz foi apelidada pela irmã como “dois-neném”. Netas de Aracy, segunda mulher do escritor, logo foram “adotadas” por Rosa.

“Caixinha”

As lembranças ficaram guardadas durante anos por Aracy na “caixinha do vovô”, até 1998, quando a família, preocupada com a conservação, resolveu levar os manuscritos do romance Grande Sertão: Veredas e os cartões para apreciação do bibliófilo José Mindlin e sua mulher, Guitta Mindlin. “Quando vimos, ficamos entusiasmados. Guitta envolveu os desenhos em uma substância plástica para preservá-los. Foram quatro anos de insistência para que Vera e Beatriz concordassem com a publicação”, conta Mindlin.

“Nós tínhamos uma certa resistência em publicar esses cartões em livro, por achar que é um material íntimo, familiar, portanto sem interesse, mas Mindlin me convenceu da importância desse acervo, principalmente em mostrar uma outra faceta do escritor”, diz Vera. Passado o constrangimento inicial a “caixa do vovô” ganhou projeto gráfico de Diana Mindlin, que reproduziu todo o material e fez algumas ampliações. A edição foi caprichada, conta com capa dura, sobrecapa de acetato, papel reciclado e uma tiragem de 3 mil exemplares.

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